Paulo Figueiredo apresenta este livro que resulta da sua tese de doutoramento efectuada na Universidade de Sussex (Reino Unido). Este trabalho é dirigido a gestores encarregues de construir e manter as capacitações tecnológicas das suas organizações, e também a académicos interessados no ensino e pesquisa das implicações práticas de acumulação de capacitação tecnológica.
Por capacitação tecnológica o autor entende “os recursos necessários para a geração e gestão de inovações em processos e organização da produção, produtos, equipamento, e projectos de engenharia. São acumulados e encorporados nos indivíduos (…) e sistemas organizacionais” (“the resources needed to generate and manage improvements in processes and production organization, products, equipment, and engineering projects. They are accumulated and embodied in individuals (…) and organizational systems”).
Com este livro Figueiredo pretende analisar as diferenças entre a forma e a razão pelas quais as empresas em industrialização (latecomer) acumulam capacitação tecnológica. “Assim este livro foca-se na relação entre os percursos de aprendizagem, de processos, e de acumulação de capacitação tecnológica e os melhorias no desempenho operacional, isto é, em como a aprendizagem tecnológica influencia o desempenho competitivo das empresas”.
Ao longo do livro o autor dá resposta a estas três questões:
- Quão diferentes foram, ao longo do tempo, os percursos de acumulação de capacitação tecnológica em duas grandes empresas de aço no Brasil?
- Como é que essas diferenças podem ser explicadas pelas características dos processos de aquisição e conversão para o nível organizacional do conhecimento?
- Como é que o percurso de acumulação de capacitação tecnológica afecta a melhoria do desempenho operacional nessas empresas?
A primeira parte do livro, que compreende cinco capítulos, oferece o cenário para este estudo e apresenta a framework que lhe serviu de base.
O capítulo dois faz uma revisão sobre a indústria das empresas em industrialização. Embora extremamente importante para definição de contexto, este capítulo bem como os dois que se lhe seguem, revela a sua origem académica: está tão sobrecarregado de referências bibliográficas que o fluxo de leitura é quebrado.
O autor também usa os dois primeiros capítulos para justificar a importância deste livro. Segundo ele a bibliografia disponível não compara empresas do mesmo ramo, foca na aquisição de conhecimento e não na forma como a aprendizagem individual se torna aprendizagem organizacional, não considera o comportamento dos mecanismos ao longo do tempo, e acima de tudo, fala de como manter a capacitação tecnológica e não de como o obter. Para as empresas em industrialização é importante adquirir rápida e eficazmente a capacitação tecnológica de que necessitam para competir.
O terceiro capítulo introduz a framework usada para analisar a capacitação tecnológica nas empresas em industrialização de aço. Esta framework considera sete níveis de capacitação tecnológica (básica, renovada, extra-básica, pré-intermediária, intermediária, alta-intermediária, e avançada) através de cinco funções tecnológicas (controlo e tomada de decisão pelos utilizadores, engenharia de projectos, organização de processos e produção, centrado em produtos, e equipamento). As características chave dos processos de aprendizagem nas empresas em industrialização é também objecto de uma outra framework baseada no trabalho de Nonaka e Takeuchi. Contudo, esta framework apenas considera a socialização (partilha de conhecimento tácito) e a codificação (passagem de tácito para explícito – o que os autores nipónicos chamaram de exteriorização). Esta framework considera que os aspectos chave da aprendizagem são a variedade, a intensidade, a funcionalidade, e a interacção.
O quarto capítulo sumaria os processos e produtos principais de uma indústria de aço integrada, enquanto que o quinto explica os métodos usados durante o estudo.
A segunda parte do livro, que compreende os capítulos seis, sete e oito, explica em detalhe o percurso de cada uma das duas empresas (USIMINAS e CSN). O autor oferece diversos exemplos do que as empresas fizeram durante as três fases da sua vida: arranque, expansão, e liberalização e privatização.
A terceira e última parte do livro é dedicada às conclusões. Vários gráficos descrevem o percurso das duas empresas em termos de acumulação de capacitação tecnológica. Os percursos são depois directamente relacionados com a variedade dos processos de aprendizagem. A inexistência na CSN de processos de aprendizagem com vista em resultados a longo prazo explica, por exemplo, o tempo de que a empresa necessitou para atingir níveis básicos de capacitação.
A intensidade dos processos de aprendizagem também podem ser relacionados com a acumulação de capacitação tecnológica. A USIMINAS conseguiu uma intensidade contínua de processos de aprendizagem, o que explica a rotina de conversão da aprendizagem individual em aprendizagem organizacional.
Porque não têm uma base de conhecimento prévia, é essencial que as empresas em industrialização desencadeiem processos internos e externos de aquisição de conhecimento.
O décimo capítulo analisa as diferenças de melhoria de desempenho entre as duas empresas no decurso da sua vida.
O autor conclui que:
- as características chave da aquisição e conversão de conhecimento estão intimamente relacionadas com a taxa, a consistência, e a composição dos percursos de acumulação de capacitação tecnológica;
- as diferenças dos processos de aprendizagem entre empresas dita as diferenças no percurso de acumulação de capacitação tecnológica;
- a taxa de acumulação de capacitação tecnológica pode ser controlada através da manipulação dos processos de aprendizagem;
- a liderança organizacional, bem como outros factores externos, também influenciam a acumulação de capacitação tecnológica; e,
- “apesar dos processo de aquisição de conhecimento serem críticos para a construção de capacitação eles não são suficientes. A empresa também precisa de paralelamente conduzir processos que convertam a aprendizagem individual em aprendizagem organizacional.”
Embora não tenha gostado do aspecto visual do livro (um bloco compacto de texto com caracteres muito pequenos), tenho de admitir que é um trabalho extraordinário. Oferece uma visão pormenorizada sobre a vida das duas empresas, comparando os seus percursos de acumulação de capacitação tecnológica, e relacionando-os com os processos de aprendizagem adoptados. É sem dúvida uma obra indispensável para quem não gosta de reinventar a roda e necessita de justificar investimentos nas suas organizações.
Sobre o livro:
Technological Learning and Competitive Performance
Paulo N. Figueiredo. Edward Elgar Publishing, GB, 2001.