A economia de hoje é abastecida por conhecimento. Todo líder sabe que para tanto, deve-se ter métodos sistemáticos para converter conhecimento organizacional em valor econômico. Escrito pelos maiores experts na vivência prática do assunto – Etienne Wenger, Richard McDermott, e William M. Snyder -, Cultivando Comunidades de Práticas é baseado em uma extensa pesquisa ao longo dos anos 90 e em exemplos de companhias como DaimlerChrysler, McKinsey & Company e o Banco Mundial.
Após longa pesquisa literária, Cultivando Comunidades de Prática é o primeiro livro que esboça modelos e métodos para desenvolver estes grupos de forma sistemática.
O livro está estruturado em dez capítulos, cujo objetivo é discutir como as comunidades de prática provêm a estrutura ideal para a construção de estratégias de Gestão do Conhecimento e criação de Vantagem Competitiva Sustentável.
Em síntese o livro pode ser estruturado em cinco tópicos, uma vez que já temos em mente o grande valor que as comunidades de prática têm para orientar estratégias, gerar novas oportunidades de negócios, apresentar resolução de problemas – Learning Lessons -, transferir melhores práticas – Best Practices -, desenvolver competências e recrutar e reter talentos (Capítulo 1):
- os elementos estruturais da comunidade de prática – domínio, comunidade e prática (Capítulo 2) e os sete princípios para se cultivar comunidades de práticas (Capítulo 3);
- os cinco estágios do ciclo de vida das comunidades e suas tensões internas (Capítulo 4 e 5);
- os desafios em se lidar com comunidades distribuídas geograficamente (Capítulo 6) e os pontos de atenção na condução das comunidades (Capítulo 7);
- as métricas e as formas de gerenciamento do valor criado pelas comunidades (Capítulo 8);
- e finalmente as sugestões para cultivar as iniciativas de comunidades de prática a fim de colaborar com a Gestão do Conhecimento (Capítulo 9).
Já o Capítulo dez trata de comunidades que transcendem as barreiras das organizações, aspecto que acredito ainda prematuro se tratar já que existem poucas referências concretas.
Embora alguns conceitos e estruturas apresentados sejam mais complexos do que necessário (por exemplo, utilizar-se da estrutura dos fractais para exemplificar como deve ser a estrutura e a dinâmica de uma comunidade distribuída geograficamente), a experiência dos autores aliada à sólida formação teórica faz com que Cultivando Comunidades de Prática se torne o guia prático de como se deve nutrir, projetar e desenvolver estes grupos poderosos dentro das organizações.
No primeiro grande tópico (Capítulo 2) são tratados os conceitos de comunidades de práticas que os autores definem como sendo grupos de pessoas que compartilham o mesmo interesse ou dedicação a um tema específico e que aprofundam seu conhecimento e competência a respeito dele através de uma interação contínua. Neste capítulo também são definidos os três elementos estruturais que compõem as comunidades.
Para os autores Domínio é o que define a identidade da comunidade e inspira a participação dos seus membros. Já Comunidade é a estrutura social que desenvolve respeito e confiança recíproca. E finalmente a Prática é o conjunto de cenários, idéias, ferramentas, informação, estilos, linguagem, estórias e documentos sobre a qual a comunidade vai atuar.
No Capítulo 3 os autores nos mostram a natureza orgânica das comunidades e como esta nos desafia a projetar seus elementos de maneira clara, com o objetivo de gerarmos dinamismo ao invés de tentarmos conduzí-la a resultados pré-determinados.
Aqui o livro alcança uma maior sofisticação analítica, pois fica claro que não podemos tratar as comunidades de prática como simples estruturas organizacionais, mas como estruturas orgânicas com todas as características peculiares a elas.
Para lidar com este desenvolvimento orgânico, os autores desenvolveram sete princípios básicos a fim de gerar o dinamismo necessário para cultivar-se comunidades de práticas:
- Buscar a evolução
- Proporcionar um diálogo aberto entre as perspectivas internas e externas
- Prover níveis diferentes de participações
- Desenvolver atividades públicas e privadas
- Focar em agregar Valor
- Combinar ambiente “familiar” e “desafiador”
- Criar ritmo próprio para a comunidade
No segundo grande tópico (Capítulos 4 e 5) são exploradas as cinco fases típicas do ciclo de vida de uma comunidade de prática e as várias tensões internas que surgem em função das transformações orgânicas que esta sofre.
Da fase inicial ou potencial – onde a comunidade não passa de uma paixão ou desejo – a comunidade é lançada oficialmente, o que gera o ingresso de vários novos membros. Nesta fase de coalizão começam a surgir as primeiras tensões entre a necessidade de gerar valor rapidamente e de deixar que a comunidade siga como um projeto de longo prazo.
É neste ponto do ciclo de vida das comunidades que várias delas desaparecem. Resolvidas estas primeiras tensões, a comunidade segue de forma crescente até atingir um estágio de amadurecimento. Ao atingi-lo, novas tensões surgem principalmente relacionadas a foco no seu domínio ou expansão e crescimento. Novamente aqui encontramos outro ponto crucial para as comunidades, o que faz com que muitas desapareçam repentinamente.
Passado este ponto, as comunidades passam a ter uma organização mais sólida e passam para a fase de simplesmente administrar suas atividades. Aqui o grande desafio é manter o ritmo passando por mudanças de membros, tecnologia e relações com a organização.
Com o passar do tempo, no entanto, a comunidade se depara com uma nova tensão: evoluir para outros domínios ou deixar que encontre naturalmente seu fim. Um exemplo interessante é o da comunidade de carburadores de uma grande empresa automobilística, que, com o avanço tecnológico da injeção eletrônica de combustível desapareceu. Neste estágio, a comunidade passa pelo grande dilema que todos nós estamos vivendo: reinventar-se ou morrer. Caso opte por reinventar-se, inicia-se um novo ciclo de vida para a “nova” comunidade.
O terceiro grande tópico (Capítulo 6) aborda os desafios das comunidades distribuídas onde as distâncias, tamanho, papel organizacional e diferenças culturais são tratadas de maneira brilhante, haja visto estarmos num mundo globalizado e assim expostos diretamente a estes fatores.
Ainda neste tópico (Capítulo 7) são tratados os pontos fracos das comunidades, tal como o hábito de reter conhecimento por arrogância, limitando a inovação e fazendo com que os membros fiquem escravos deste conhecimento. Assim, podemos constatar que os pontos fortes de uma comunidade podem se transformar em pontos fracos.
Já no quarto grande tópico (Capítulo 8) é demonstrada a necessidade de se construir métricas e gerenciamento das comunidades de prática, bem como as dificuldades no estabelecimento destas. Os autores sugerem várias alternativas para direcionar estas necessidades, porém acredito que o case mais interessante (por tê-lo vivenciado) é o da McKinsey, estudado neste capítulo. O primeiro fator chave de sucesso é desenvolver iniciativas organizacionais de conhecimento que estimulem o dinamismo inerente às comunidades, ao invés de buscá-las externamente.
O segundo fator chave de sucesso para iniciar uma comunidade, é a realização de uma análise profunda da situação atual e potenciais necessidades futuras, visando estabelecer forte conexão com a estratégia do negócio.
O terceiro fator chave de sucesso é desenvolver uma comunidade de prática específica para o desenvolvimento de comunidades.
E finalmente o quarto fator chave de sucesso é cultivar o apoio dos stakeholders e patrocínio dos altos executivos da organização.
No Capítulo dez, os autores brilhantemente lançam várias questões novas, extrapolando os conceitos de comunidades da organização e envolvendo fornecedores; consumidores; parceiros e mesmo transcendendo o ambiente de atuação das organizações.
Há muito ainda a ser estudado sobre esta forma organizacional emergente, como esta tem se mostrado uma importante complementação às estruturas existentes, como contribui de forma efetiva para o aprendizado, o compartilhamento de conhecimento e a mudança nas organizações, ou seja, uma prática fundamental para a Gestão do Conhecimento.
Entretanto, o livro deixa espaço para explorações adicionais a saber:
- Como as organizações podem melhor direcionar as questões de propriedade intelectual?
- Já que as comunidades de práticas são voluntárias, o que fazer quando a pessoa chave de certo conhecimento para uma área em particular não deseja colaborar?
À medida que as comunidades de prática se tornarem mais populares – e espero que se tornem – estas e outras questões demandarão maior atenção.
Sobre o livro:
Cultivating Communities of Practice: A Guide to Managing Knowledge
Etienne Wenger, Richard McDermott e William M Snyder. HBS Press Book, EUA, 2002.