Numa altura em que muitas organizações acordam para a gestão de conhecimento mas justificam a sua inactividade nesta área por falta de verbas, este livro é uma onda de esperança que posiciona as comunidades virtuais e de prática como uma solução pouco onerosa de gestão de conhecimento.
O autor começa olhando para algumas previsões feitas no passado sobre o estado actual da tecnologia e apresenta a Internet como um veículo de comunicação. Na verdade, a Internet permite que pessoas fisicamente distantes, se reunam… virtualmente. Esta possibilidade traz inúmeros benefícios (por exemplo, redução de custos, melhoria do fluxo de informação, etc.) alguns dos quais são exemplificados pelo autor com casos concretos. O autor dedica bastante atenção aos e-mails. Diz ele que o valor do conteúdo que neles reside é inquestionável. As organizações não podem ignorá-los. São, por isso, sugeridas algumas ferramentas para gestão de e-mails de forma a que a quantidade de mensagens trocadas não impeça que sejam encontradas quando necessárias. Contudo, não se pode ignorar a questão, ainda não respondida, sobre a propriedade dos e-mails trocados nas organizações.
Sendo uma rede de pessoas e não apenas de computadores, as comunidades virtuais colocam alguns desafios. Nomeadamente de criação, moderação, e relacionamento entre os membros. O modelo de desenvolvimento sugerido pelo autor baseia-se no modelo criado pelo Departamento da Marinha dos EUA e compreende 7 fases: concepção & catalisação, conexão das pessoas, partilha, construção de confiança, colaboração, criação de conhecimento, e renovação.
As comunidades de prática têm como um dos seus principais objectivos, facilitar a troca de conhecimento tácito. Assim, não será de estranhar que o autor refira o trabalho de Nonaka, nomeadamente as suas cinco fases de criação de conhecimento.
Outras vantagens das comunidades de prática são a criação de um sentimento de pertença, a educação da “gestão média” e a “linha da frente”, e a troca de informação sobre os clientes. Os clientes são a razão de ser de uma organização. Assim, é imperativo que as organizações saibam o máximo sobre eles e valorizem todas as interacções com eles realizadas. Torna-se aqui evidente a relação que a gestão de conhecimento tem com a gestão do relacionamento com clientes.
Numa altura em que o nível geral de cultura tem diminuído, as pessoas se conformam com a reacção a problemas externos (ao invés de responder a motivações internas), e a gestão organizacional se preocupa com o curto-prazo, a importância das organizações aprendentes torna-se clara. Assim como é também clara a ajuda que as comunidades de prática podem dar na conquista de um clima de aprendizagem colectiva.
No capítulo que dedica às melhores práticas, Teixeira Filho oferece algumas conclusões derivadas da observação, análise e generalização de alguns casos de estudo e lições aprendidas. Assim, fala brevemente da disseminação sistemática do conhecimento, de segurança e protecção, da actualização da base de conhecimento, e das características dos membros. O autor oferece ainda uma lista de princípios para uma comunidades de prática, e um roteiro básico para a sua criação e manutenção.
Teixeira Filho sugere ainda uma lista de perguntas a dar resposta antes de se criar uma comunidade de prática, um roteiro para reuniões presenciais, e algumas ferramentas de software para a gestão de conhecimento. Esta última constitui uma perspectiva muito alargada e pouco detalhada, mas não deixa de ser interessante.
Para finalizar o autor fala brevemente do caso da Competitive-Knowledge, uma comunidade virtual sobre gestão de conhecimento moderada pelo próprio Teixeira Filho. A narrativa fala do seu nascimento como auxiliar de marketing da empresa Informal Informática, no seu desenvolvimento, e na sua maturidade que deu origem ao nascimento da Sociedade Brasileira de Gestão de Conhecimento.
O livro inclui ainda uma sequência de mensagens trocadas numa lista de discussão como exemplo da produtividade que se pode alcançar, e um glossário.
Embora não tivesse conhecido o Jayme Teixeira Filho e tivesse com ele trocado poucas mensagens, sempre me pareceu uma pessoa acessível e pronta a debater opiniões diversas. Foi com tristeza que li este livro pensando que não me seria possivel discutir com ele alguns pontos com que não concordo.
Nomeadamente, a forma, aparentemente, aleatórea como o autor usa os termos “comunidade virtual” e “comunidade de práticas”. Embora ele admita que uma comunidade de prática pode não ser virtual, ele parece assumir que uma comunidade virtual é uma comunidade de prática. Para além disso, ele refere uma comunidade com um plano e com o propósito de resolução de um problema a que chama “comunidade de prática”. Ora, olhando para o trabalho de Etienne Wenger, o autor que cunhou e disseminou o conceito, uma comunidade de prática visa apenas a aprendizagem individual e colectiva. A existência de um problema que tem de ser resolvido atribui à comunidade um limite temporal, obstáculo principal à criação de um sentimento de pertença.
Para além disso, a certa altura, Teixeira Filho refere que um dos factores para a longevidade de uma comunidade de prática é o alinhamento dos objectivos com os da organização. Ora, isto dá a entender que as comunidades de prática são apenas constituídas por indivíduos da mesma organização. Isto não só contradiz algumas das ideias que ele expõe ao longo do livro, como contradiz também a noção de um espaço livre e aberto para troca voluntária de conhecimento.
Contudo, e apesar de discordar nalguns pontos, este trabalho é uma leitura agradável e ligeira sobre comunidades virtuais e de prática.
Sobre o livro:
Comunidades Virtuais
Jayme Teixeira Filho. Senac, Brasil, 2002.