Como parte do meu trabalho meio bastante livros. Alguns têm um tema bastante interessante mas apresentado de forma bastante pobre. Outros têm como autores pessoas que conseguem transformar o mais aborrecido dos assuntos num livro divertido e de fácil leitura. Este livro, “Realizing the Promise of Corporate Portals” não encaixa em nenhum desses casos. Este é certamente o melhor livro que li nos últimos doze meses e um dos melhores que alguma vez li. A razão? Muito fácil: o assunto é relevante e pertinente, a forma como é apresentado é simples, e o tom é prático, descontraído e acessível. Além disso, o livro está repleto de casos de estudo que documentam as descobertas e ideias dos autores. Não é um livro de receitas mas oferece imensas sugestões e ferramentas prontas a usar (ou adaptar).
O livro começa com seis cenas de um futuro não muito distante, onde os portais corporativos estão no centro de qualquer organização. Estes cenas ilustram o forma como os portais corporativos (PC) podem ser usados e o papel que podem desempenhar.
Esse importante papel advém de três tendências: o aparecimento da era em rede, o papel do conhecimento nos negócios, e os novos modelos organizativos. Estas tendências implicam uma grande colaboração entre equipas, uma forte parceria com outras organizações, um crescente reconhecimento dos trabalhadores do conhecimento e das suas necessidades, e um verdadeiro sentimento de confiança. Elas também conduzem a dois grandes objectivos dos PC: ajudar as pessoas a encontrar peritos, e promover e suportar comunidades de prática.
De acordo com os autores, os portais corporativos têm de estar interligados com a gestão de conhecimento (GC) e, consequentemente, com o capital intelectual. Eles consideram o capital intelectual como a soma dos capitais social, estrutural, de liderança e humano. Em resultado disso, Terra e Gordon desenvolveram um framework que considera estas várias facetas e inclui uma extensa lista de objectivos de GC e de ferramentas de portais corporativos.
Os autores distinguem intranets de portais corporativos e descrevem uma plataforma de PC com base na sua interpretação da direcção que o mercado de software parece tomar bem como nos serviços geralmente incluídos. Algumas das motivações identificadas para o desenvolvimento de um portal corporativo são:
- ajuda a encontrar informação e conhecimento relevantes;
- codificar e publicar conhecimento;
- suportar colaboração on-line;
- integrar aplicações isoladas (stand-alone); e,
- suportar pesquisas em diferentes repositórios de dados não-estruturados.
Ao longo do livro, Terra e Gordon falam dos seguintes tópicos com algum detalhe:
- as diferenças entre GC e gestão de informação;
- cultura organizacional;
- comunidades de prática;
- comunidades on-line;
- e-learning;
- taxonomias;
- motores de pesquisa;
- dados estruturados e não-estruturados;
- personalização;
- sistemas de gestão de conteúdo;
- retorno intangível dos portais corporativos;
- metodologias de avaliação de resultados; e,
- universidades corporativas.
O livro contém alguns “guias” interessantes para programas de GC e projectos de portais corporativos:
- uma lista de questões para aconselhar o planeamento táctico e estratégico da GC;
- uma lista de elementos num business case para um portal corporativo;
- um questionário para os líderes identificarem as suas prioridades;
- uma lista de possíveis métricas quantitativas, semi-quantitativas, qualitativas e de satisfação, para um PC;
- uma descrição detalhada das funções que se tornam importantes com o advento dos programas de GC;
- um questionário para avaliação de um PC;
- estratégias de portais corporativos bem sucedidos;
- estratégias e práticas para garantir conteúdo de qualidade; e,
- uma extensa lista de questões técnicas para ajudar durante a escolha de uma plataforma para PC.
Uma das particularidades deste livro é a lista de lições aprendidas que os autores apresentam. As lições são doze no total:
- A primeira prioridade é o alinhamento com a estratégica organizacional
- Ser claro sobre o propósito, os objectivos e as métricas
- Ter estratégias criativas de recompensa e reconhecimento
- A mudança organizacional não acontece por acaso
- Comunicar
- Atribuir claramente as novas funções e responsabilidades
- Focar nas necessidades dos utilizadores
- As comunidades on-line requerem um planeamento cuidado, infra-estrutura e suporte contínuo
- A qualidade do conteúdo é mais importante que a quantidade
- O PC deve reduzir a sobrecarga de informação e simplificar o acesso a informação, modelos e experiência, tanto dentro como fora da organização
- Estabelecer prioridades para a integração de aplicações de TI
- Desenvolver um processo diligente para a selecção da plataforma do PC.
Mas se as lições aprendidas são uma das particularidades do livro, os onze casos de estudo são o seu coração. Os casos são apresentados com grande detalhe, incluindo o passado da organização, as motivações, objectivos e suporte para o programa, a jornada de implementação, as métricas usadas, as lições aprendidas e os planos de futuro. Os casos de estudo vêm de organizações tão diversas como a Bain & Company (consultoria em gestão), o Bank of Montreal, a Eli Lilly (farmacêutica), a SERPRO (agência federal), a Siemens, a Texaco e a Xerox. Todos com propósitos, percursos, resultados e conclusões diferentes, eles são um verdadeiro achado. Podem alimentar a sua imaginação e incendiar a sua criatividade.
Ao longo do livro os autores falam de portais corporativos, gestão de conhecimento e mudança cultural mudando, quase imperceptivelmente, de um para outro. Embora isto sublinhe o quando entrelaçados estes tópicos estão, estas mudanças podem ser um pouco confusas, especialmente para os menos experientes. Este é provavelmente o único aspecto negativo que encontro no livro.
Se não sabe nada sobre portais corporativos, comece aqui. Se é novato ou experiente, respire fundo, abra a sua mente e deixe que este livro complemente e refine aquilo que já sabe.
Sobre o livro:
Realizing the Promise of Corporate Portals: Leveraging Knowledge for Business Success
José Cláudio Terra e Cindy Gordon. Butterworth & Heinemann, USA, 2003.