Este livro é uma mistura de insights muito interessantes sobre o trabalho do conhecimento e as motivações económicas e tecnológicas para as intranets. O último aspecto ter-se-ia provado bastante útil não tivessem os autores mostrado as intranets de mãos dadas com a descarada propaganda do seu produto, recomendando as soluções da Microsoft como a plataforma-solução para todas as intranets. A minha preocupação é que a solução explorada pelos autores possa ter sido regulada pela decisão de referenciar o seu produto.
O livro está dividido em quatro secções. O primeiro capítulo da primeira secção é redundante. Intitulado “From Cuneiform to Intranets: Getting Here from There”, se estivesse interessada na história da evolução da gestão de informação, até poderia revelar-se interessante. Suspeito, no entanto, que muitos dos leitores que pegam neste livro não estão à procura do percurso que o Homem percorreu para a captura de informação. Pessoalmente não tenho qualquer interesse em imagens de papírus e tubos de raios catódicos.
O capítulo 2 é uma introdução às intranets, que oferece insights sobre a actual importância das intranets e sobre a sua próxima geração. O terceiro capítulo também oferece umas perspectivas interessantes sobre portais e o lugar que têm no mercado para dar resposta a trabalhadores do conhecimento que requerem colaboração, gestão e descoberta de informação através da web.
O capítulo 5 define intranets como um dos blocos fundamentais do local de trabalho do conhecimento. Contudo, o capítulo intitula-se ‘Microsoft Solution for Intranets’. Dado que os autores estão a produzir um livro sobre a alçada da Microsoft, pode argumentar-se que teria de haver um espaço dedicado à ferramenta oferecida por esta empresa. Contudo, este capítulo é apenas um dos que fazem referência à arquitectura proprietária da Microsoft.
Eu recomendaria a segunda secção: ‘The Culture of Knowledge’. Contém observações relevantes sobre actuais tendências do conhecimento e sobre o que é um trabalhador do conhecimento. Por exemplo, o capítulo 6 identifica as características dos trabalhadores do conhecimento e os seus tipos de actividade, por exemplo criar, colaborar, descobrir, reciclar e comunicar conhecimento. Também resiste à tentação de sugerir que a tecnologia é a dinâmica necessária para o trabalho do conhecimento, dizendo que “[s]ão as pessoas que fazem o trabalho do conhecimento” (p92). Os autores exploram depois as sete máximas para o mercado de trabalho do conhecimento e observam que, para manter com sucesso o capital de conhecimento de uma organização, os velhos paradigmas da gestão têm de ser transformados, conduzindo a organização para uma situação onde todos podem beneficiar através da partilha de conhecimento (p101). Esta secção teria beneficiado da inclusão de alguns casos de estudo – há muitos disponíveis.
A terceira secção (‘How Intranets Add Value’) olha para o valor de negócio e para o potencial das intranets enquanto facilitadoras de conhecimento. Olha também para a emergência do trabalhador do conhecimento como o motor dos países em desenvolvimento. Recorrendo a quatro perfis de retorno de investimento, considera diferentes cenários que existem no mercado de trabalho do conhecimento e que descrevem práticas quotidianas de negócio. A secção considera depois de que forma estes cenários podem ser suportados por intranets e usados para identificar benefícios de produtividade, comunicação e colaboração. O nono capítulo utiliza casos de estudo para descrever quatro intranets – todas soluções da Microsoft, claro! Apesar disso, identifica os aspectos possíveis através de uma boa intranet: colaboração, partilha de conhecimento e redução de silos isolados de informação.
A secção 4 (‘Making Intranets Work: Planning and Beyond’) fala sobre como assegurar os benefícios de uma intranet organizacional e como planear estratégias para a posicionar como uma confiável ferramenta de negócio. Oferece algumas boas razões para o fracasso de algumas intranets e cita que a estimativa do tempo perdido em todo o mundo devido a intranets sub-óptimas é de $1 trilião. As intranets podem sofrer o que eles chamam o destino dos enteados, isto é, podem ser ignoradas e mal subsidiadas. Os autores dizem ainda que muitas intranets são conchas obrigatórias com falta de direcção e suporte e que, por isso, têm pouco valor. Dizem ainda que a melhor forma de avaliar a mistura de conteúdo e serviços é falar directamente com os utilizadores. Embora isto não deva ser novidade para aqueles com um mínimo de experiência em intranets, às vezes é bom repetir que qualquer intranet necessita de aprovação e suporte tanto das camadas de baixo como das camadas de topo da organização.
Marcus and Watters concluem que as intranets continuam a evoluir em funcionalidade e que as intranets, extranets e a internet podem deixar de existir em separado à medida que as fronteiras entre as redes públicas e privadas se esbatem. No geral, o livro aproxima de forma coerente a utilidade das intranets com o trabalho do conhecimento na economia do conhecimento. O livro ignora os aspectos mais intangíveis, por exemplo como é que as intranets podem promover comunidades de prática e que retorno de investimento se pode esperar de uma intranet. Recomendo vivamente que, antes de iniciar um capítulo o leitor recorra aos pequenos resumos no final de cada capítulo. Estes úteis sumários permitem assim que seleccione apenas os capítulos que mais lhe possam interessar.
(Tradução de Ana Neves)
Sobre o livro:
Collective Knowledge: Intranets, Productivity and the Promise of the Knowledge Workplace
Robert Marcus e Beverly Watters. Microsoft Press, EUA, 2002.