Não é um livro memorável nem de grande qualidade. É salvo, porém, por algumas passagens de interesse, e pelos resultados e análise de um estudo sobre a gestão do conhecimento (GC) em empresas de telecomunicação em Portugal.
Loureiro começa por falar da era do conhecimento, nomeadamente das características que a distinguem das outras eras. Como não poderia deixar de ser num livro sobre esta temática, o autor oferece a sua interpretação do que são dados, informação e conhecimento. Este último, tácito ou explícito, pode encontrar-se nas pessoas, nos processos, nos sistemas e na cultura, e apresenta as seguintes características:
- multifacetado;
- auto-organizado;
- ‘viaja’ através da linguagem;
- não está sempre a aumentar;
- não é responsabilidade de ninguém;
- a maneira como é definido determina a forma como é gerido;
- tem origem e reside nas pessoas;
- a sua partilha exige confiança, estímulo e recompensas;
- a tecnologia possibilita novos comportamentos;
- as redes sociais ajudam a criação de conhecimento útil;
- o trabalho baseado no conhecimento é personalizado; e,
- cada organizacao deve identificar qual a informação que lhe é mais crítica.
O autor aponta as definições de gestão do conhecimento sugeridas por alguns autores, avançando também as suas: “A gestão do conhecimento pode ser definida como a abordagem sistemática para aumentar o valor e a acessibilidade do capital do conhecimento da organização para alcançar a máxima eficácia nos negócios e para propagar a inovação. Envolve acções de gestão a nivel da criação, captura, síntese, partilha e aplicação da inteligência colectiva da organização.” (p 13)
“a gestão do conhecimento é (…) o processo de potencializar o que as pessoas sabem para criar valor” (p 41)
Para Loureiro, os objectivos para a gestão do conhecimento nas organizações são:
criar um repositório de conhecimento que contenha conhecimento externo, conhecimento interno estruturado e conhecimento interno informal;
melhorar o acesso ao conhecimento;
desenvolver um ambiente e uma cultura organizacional que estimule os processos do conhecimento; e,
gerir o conhecimento como um recurso mensurável.
Mais à frente, uma outra lista acrescenta estes objectivos:
- suportar a inovação;
- captar experiências para as poder disponibilizar;
- facilitar a procura e reutilização de fontes de conhecimento;
- incentivar a colaboração, partilha de conhecimento e aprendizagem contínua;
- melhorar a qualidade da tomada de decisões; e,
- compreender o valor dos activos intelectuais.
Se esta segunda pode, realmente, ser vista como uma lista de objectivos, a primeira é certamente uma enumeração de possíveis actividades num programa de gestão de conhecimento.
As razões que levam, agora, as organizações a considerar seriamente a gestão do conhecimento são várias:
- mudança rápida e concorrência feroz;
- globalização;
- organizações mais magras;
- mobilidade da força de trabalho;
- novas tecnologias;
- trabalho virtual; e,
- exigências dos clientes e accionistas.
Os obstáculos que se colocam à GC são:
- cultura organziacional;
- avaliação do conhecimento;
- processamento do conhecimento;
- agir de acordo com o conhecimento;
- ausência de um líder de conhecimento;
- falta de suporte da gestão de topo;
- falta de clareza no valor oferecido; e,
- falta de visão.
Alguns destes obstáculos são abordados pelo autor mais à frente quando ele expande os factores estruturantes facilitadores da GC.
O segundo capítulo apresenta um modelo de aprendizagem organizacional criado com base nas ideias de Santiago e Nevis, DiBella et al.. Este modelo inclui: orientações globais, factores facilitadores gerais e factores facilitadores específicos de aprendizagem.
O ciclo da gestão do conhecimento sugerido considera os processos de geração, codificação, transferência e utilização de conhecimento, e os factores estruturantes organizacionais.
Os factores que previnem a partilha de conhecimento entre indivíduos são:
- falta de confiança mutual;
- diferentes culturas, vocabulários e quadros de referência;
- falta de tempo e locais de encontro;
- posição e recompensa dada a quem possui conhecimento;
- falta de capacidade de absorção pelos receptores;
- síndroma do “não inventado aqui”; e,
- intolerância para com erros e necessidade de ajuda.
Três tácticas possíveis para que a partilha tenha lugar são: comunidades de prática, sistemas de recompensa (reciprocidade, altruismo, ou reputação), e a confiança.
As tecnologias do conhecimento e a sua dimensão humana, isto é, “como elas são utilizadas pelas pessoas nas organizações e a influência nos processos, estruturas e culturas organizacionais”, são também matéria para o segundo capítulo. O autor aproveita para listar algumas das tecnologias existentes.
Loureiro lista os membros de uma equipa de gestão do conhecimento (os trabalhadores do conhecimento, os gestores de projectos do conhecimento, e o director do conhecimento), falando das suas características e responsabilidades. O autor apresenta algumas ideias interessantes neste âmbito mas quase todas apontam na direcção da gestão de informação e não do conhecimento.
A segunda parte do livro fala de um estudo realizado pelo autor. Este estudo assentou num questionário baseado no trabalho de Santiago e Nevis, DiBella et al.. Este questionário de quatro partes (generalidades, orientações na construção do conhecimento, factores facilitadores da GC, e estratégias de actuação) preenchido por 22 organizações representativas do sector económico das telecomunicações em Portugal. O questionário, a sua explicação, os dados demográficos da amostra, as respostas recebidas e a análise do autor, são gentilmente apresentadas.
Em jeito de conclusão, devo referir que este livro tem imensas gralhas e a construção gramatical é, por vezes, que um insulto à língua portuguesa. O autor contradiz-se algumas vezes no decurso do livro o que reforça a minha ideia de que este trabalho foi escrito em alturas distintas (há passagens do livro com muito melhor qualidade gramatical e de conteúdo do que outras).
Como aspectos positivos, há que dizer que gosto da definição que o autor oferece de gestão do conhecimento (embora esta nem sempre se reflicta na forma como ele apresenta as suas ideias). O livro tem, aqui e ali, algumas passagens e ideias interessantes e vale certamente a pena pelo estudo que apresenta.
Sobre o livro:
Gestão do Conhecimento
Joaquim Luís Loureiro. Centro Atlântico, Portugal, 2003.
Gostei da forma estruturada do resumo. Numa rápida passagem ves o conteúdo.