Blink: The Power of Thinking without Thinking (Malcolm Gladwell, 2005)

Blink: The Power of Thinking without Thinking

Blink - capaHá alguns anos um colega emprestou-me uma cópia do livro The Tipping Point. Devorei o livro num instante. Malcolm Gladwell, o autor, está de volta. Desta vez com o livro Blink. Como é este comparado com o anterior? Igualmente impressionante: extremamente fácil de ler, bem escrito e cheio de histórias interessantes.

Blink é um livro sobre aqueles momentos em que sabemos algo sem, na verdade, saber porquê. “Vivemos num mundo que assume que a qualidade de uma decisão está directamente relactionada com o tempo e esforço investido” (p 13) e com o volume de dados analisados. Contudo, o ser humano tem um inconsciente adaptativo que lhes permite fazer julgamentos rápidos com base na intuição e experiência.

Este livro pretende explorar:

  • a forma como decisões rápidas podem ser tão boas como as feitas cuidadosa e deliberadamente;
  • quando se deve ou não confiar nos nossos instintos; e,
  • como podemos educar e controlar os nossos julgamentos e as nossas primeiras impressões.

As pessoas são geralmente muito boas a tomar decisões rápidas porque são boas a fazer “thin slicing”. Isto é, são boas a filtrar os dados que verdadeiramente interessam e a fatiá-los em pequenas porções para análise. Gladwell ilustra esta capacidade com uma experiência em que as pessoas foram convidadas a caracterizar uma outra pessoa com base no aspecto do seu quarto.

As decisões instantâneas baseiam-se num processamento inconsciente. Tudo acontece por trás de uma porta fechada: não sabemos o que lá se passa, nem o conseguimos explicar. Se esse é o caso, como é que podemos extrair a capacidade de alguém tomar decisões instantâneas de forma a tornar essa skill disponível para outros na organização? Como podemos entender o processo de pensamento por detrás de uma acção de uma pessoa se nem ela o entende?

O que se passa por detrás da porta fechada intriga muitas pessoas. Todos querem saber porque algo é dito ou feito de forma a que possa ser replicado (não é isto que tentamos fazer quando usamos técnicas de extracção de conhecimento?). Contudo, pode ser perigoso forçar explicações quando elas não são conhecidas. As pessoas tendem a oferecer explicações para coisas que não entendem. (Pergunto-me se será por isto que as narrativas, da forma como são usadas por David Snowden, são uma tão boa forma de diagnóstico… Porque extraem o contexto e os factos mas não as explicações…)

Uma excepção a esta “regra” são os peritos. Os peritos têm maior probabilidade de entender o que se passa por detrás da porta fechada, enquanto que outras pessoas muitas vezes usam palavras erradas para explicar sentimentos, sensações, ou propriedades de que não têm consciência. É por isso extremamente importante ter isso em conta e analisar as reacções destas últimas, mais do que as suas palavras.

O inconsciente é mesmo útil porque, por exemplo, nos permite reagir rapidamente face a situações de perigo. Porém, o inconsciente pode ser distraído e às vezes só analisa alguns dos dados disponíveis e relevantes: isto pode conduzir a decisões erradas. Por vezes é difícil olhar além de determinados estereótipos. Porque é que homens altos têm mais probabilidade de atingir posições de liderança? Ou homens brancos têm maior probabilidade de conseguir melhores preços na compra de um automóvel? As associações que fazemos com essas pessoas muitas vezes não nos deixam analisar outros dados disponíveis que talvez nos conduzissem a outra decisão.

As boas notícias é que podemos fazer alguma coisa para contrariar esta tendência. As nossas primeiras impressões baseiam-se nas nossas experiências prévias e no ambiente que nos rodeia. Se fizermos um esforço para experimentar outras coisas e explorar outros contextos envolventes, estaremos melhor equipados para lutar contra estes estereótipos.

Um outro aspecto que vale a pena realçar é que quanto mais se pratica, melhor preparado se está para se tomar decisões instantâneas. Um jogador de basquetebol em campo não sabe o que a outra equipa vai fazer e vai ter de tomar muitas decisões instantâneas durante o jogo. Essas decisões reflectem a sua experiência mas também a quantidade de treino.

Finalmente, é importante estar desperto para possíveis períodos de cegueira mental: momentos em que a pessoa não é capaz de funcionar e usar o seu inconsciente. Falta de tempo e excitação extrema são as causas mais frequentes de cegueira mental.

Ficam agora algumas lições que recolhi neste livro:

  • uma tomada de decisão realmente bem sucedida depende do equilíbrio entre os pensamentos deliberado e instintivo;
  • frugalidade é importante para uma boa tomada de decisão; e,
  • é possível influenciar a nossa cognição rápida se estivermos conscientes dela e fizermos um esforço também ele consciente.

Aprendi imenso com este livro e posso dizer que, daqui a cinco anos, ainda me irei lembrar de muito do que aprendi. Isto deve-se ao facto de o livro estar carregadinho de histórias, da narração de acontecimentos reais e da explicação de experiências realizadas. Tudo isto ajuda a interiorizar as ideias sugeridas pelo autor. Fico agora à espera do próximo livro de Gladwell. (Um autor como ele tem de escrever mais livros, não acham?)

Blink - capaSobre o livro:
Blink: The Power of Thinking without Thinking
Malcolm Gladwell. Allen Lane, UK, 2005.

3 comments

  1. Ferdinand 10 Janeiro, 2011 at 00:46 Responder

    Este foi o único livro do Gladwell que lí.

    Achei melhores os livros do Gary Klein, de leitura mais profunda e bem mais convincentes.

    Leiam:

    Sources of Power: How People make Decisions

    Streetlights and Shadows: Searching for Keys to Adaptive Decision Making

  2. Ferdinand 21 Janeiro, 2011 at 23:15 Responder

    Justo agora, como que por um “Blink” percebo o que acho errado neste livro. É o mote ” The Power of Thinking without Thinking”.

    Não tive esta percepção quando o li em 2005.

    Hoje penso que não deveriam induzir que intuição é um processo sem “Thinking”. Nossa intuição é um processo poderoso, sobre o qual muito pouco se sabe.

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