Parte da colecção APGC (Associação Portuguesa para a Gestão do Conhecimento), este livro é uma revisão crítica da literatura existente sobre gestão de conhecimento no âmbito das organizações. O seu objectivo, nas palavras do próprio autor, “é o de apresentar uma série de argumentos a favor de um entendimento da Gestão de Conhecimento, não como uma técnica ou conjunto de técnicas de gestão, mas como uma abordagem nova às organizações” (p 23).
O autor começa por apresentar as organizações aprendentes em oposição às organizações mecanicistas e definir a gestão de conhecimento como “uma disciplina emergente que propõe uma abordagem formalizada e integrada para a gestão dos activos intangíveis de conhecimento da organização” (23), e encoraja a partilha e reutilização de conhecimento.
O livro está organizado em quatro partes. A primeira é sobre conhecimento e apresenta as organizações como sistemas complexos, emergentes e autopoiéticos.
A segunda parte do livro aborda o conhecimento organizacional, estabelecendo as diferenças entre o antigo paradigma (determinismo, previsibilidade, ordem, harmonia, inter-dependência, estabilidade, equilíbrio, sistemas abertos, mecanismo de processamento de informação) e o novo paradigma (criação de conhecimento, cultura viva, climas ou contextos, complexidade).
Na terceira parte do livro, sobre estratégia e gestão do conhecimento, Magalhães estabelece a relação entre conhecimento, acção e contexto. Segundo o autor, e com base na literatura, o conhecimento é construído através da acção e com base em contextos. Uma acção é o resultado de uma acção passada e a causa de uma acção futura: a acção é causa e consequência de conhecimento. Assim, e considerando conhecimento como “acção apropriada”, o conhecimento organizacional é mediado, situado, provisório e pragmático. É a acção que, como mecanismo generativo, suporta a criação de contextos organizacionais.
Finalmente, a quarta parte deste trabalho tenta aplicar os conceitos expostos, relatando de que forma a teoria é reflectida nas organizações actuais e identificando os aspectos a considerar numa auditoria à gestão estratégica do conhecimento organizacional.
O capítulo oito apresenta um modelo representativo do papel dos sistemas e tecnologias de informação no desenvolvimento do conhecimento organizacional. Os cinco elementos principais desse modelo (informação externa, estratégia de negócios e de sistemas de informação, infra e super-estrutura técnico-cultural da organização, governação dos sistemas e tecnologias de informação, e contextos técnico-organizacionais de aprendizagem) são descritos com algum detalhe.
O nono capítulo sugere onze grupos de métricas que se devem considerar numa auditoria à gestão estratégica do conhecimento organizacional:
- abordagem estratégica ao conhecimento organizacional;
- participação na formulação de políticas de gestão;
- prospecção da envolvente;
- aprendizagem inter-organizacional;
- processos e estrutura;
- gestão criativa de recursos de informação;
- controlo de gestão formativo;
- oportunidades de auto-desenvolvimento;
- flexibilidade na compensação;
- comunicação interna; e,
- clima de aprendizagem.
Para terminar este seu trabalho, Magalhães deixa-nos com alguns temas para reflexão.
A terceira parte do livro sobressai pelo seu interesse, e forma fluida como expõe e liga os conceitos em questão. Também vale realçar o nono capítulo já que é o que mais se aproxima de algo que, numa linguagem acessível, os gestores podem considerar usar nas suas organizações para começar a pensar na gestão estratégica do conhecimento.
O livro tem, infelizmente, bastantes gralhas tipográficas, mas graficamente agrada ao olho. As tabelas e os diagramas incluídos pelo autor facilitam a leitura e interpretação dos conceitos e ideias apresentados.
Este segundo livro de Rodrigo Magalhães é uma versão resumida do seu outro trabalho Organizational Knowledge and Technology: An Action-Oriented Perspective on Organization and Information Systems (Edward Elgar, UK, 2004), acrescentando, nos capítulos finais, um olhar mais atento aos aspectos da gestão do conhecimento e uma linguagem menos académica sobre os mesmos.
As palavras bastante elogiosas de José Tribolet na contra-capa prometem um livro de leitura obrigatória “não só para os ‘softs’ das Humanidades, mas também, e sobretudo, para os ‘hards’ das Ciências e Tecnologias.” Eu atrevia-me a completar esta frase dizendo “que queiram conhecer a teoria publicada nestes temas”. A verdade é que, não desfazendo minimamente na qualidade deste livro, este é mais um trabalho teórico que em pouco ajuda os gestores, com a sua preenchida agenda, a facilmente definir e delinear uma estratégia que considere e maximize o conhecimento organizacional. Gerir conhecimento não é uma actividade que possa ser descrita ou prescrita, mas acredito que seja possível dar ideias concretas de actividades e projectos que se possam realizar como parte de uma estratégia coordenada de gestão de conhecimento.
Sobre o livro:
Fundamentos da Gestão do Conhecimento Organizacional
Rodrigo Magalhães. Edições Sílabo, Portugal, 2005.