Emprego Científico em Portugal: Sector Empresarial. Um Contributo

Emprego Científico em Portugal - capaA investigação, o desenvolvimento e a inovação subiram à ribalta com a Estratégia de Lisboa que reconhece estas áreas como fulcrais para a competitividade da Europa. Nesse contexto, muitos têm sido os esforços europeus, nacionais e regionais para incentivar e melhorar o desempenho individual (das organizações) e colectivo.

Um dos reflexos desses esforços é a maior aposta em colaboradores com funções dedicadas à investigação, desenvolvimento e/ou inovação (IDI). Infelizmente, pouco se sabe destes profissionais e das organizações onde trabalham. Mais ainda, sente-se insuficiente o investimento do sector privado nestas funções bem como um desajuste entre as necessidades reais do mercado de trabalho e a formação oferecida pelos estabelecimentos de ensino.

Assim, os objectivos deste estudo, nas palavras da autora são:

“- Compreender e delimitar o domínio profissional da Investigação, Desenvolvimento e Inovação

Conhecer e identificar profissões e competências no domínio profissional

Caracterizar o Emprego Científico no sector empresarial e sua evolução

Identificar necessidades formativas no Domínio Profissional e pistas para a reorientação da oferta formativa.” (p 9)

No primeiro capítulo, Santos cria um contexto com a apresentação da Estratégia de Lisboa e dos seus objectivos face à IDI. Fala ainda de áreas prioritárias, indicadores actuais e metas definidas. O papel do Estado é também referido, nomeadamente, como fundamental na criação de um clima favorável e na propagação da inovação e de tecnologia.

O capítulo seguinte apresenta diferentes pontos de vista sobre o que são, de facto, a comunidade científica, um investigador, recursos humanos em actividades de Ciência e Tecnologia, e emprego científico. O que autora deixa aparente, à medida que a apresentação se desenrola, é a forma como o sector empresarial parece ficar de fora destas definições e intervenções.

Depois destas considerações e do enquadramento iniciais, a autora começa a falar do estudo na base deste trabalho. Baseou-se num questionário preenchido por 25 empresas nacionais com funções explícitas de IDI e em entrevistas a oito peritos nacionais.

O questionário procurou:

  • caracterizar as empresas;
  • entender o lugar que o dominío profissional da IDI (DP da IDI) ocupa;
  • o papel que o DP da IDI desempenha das empresas;
  • os perfís dos profissionais de IDI;
  • as tendências passadas e futuras de recrutamente para funções no DP da IDI.

Alguns dados revelados pelo estudo:

  • o DP da IDI é geralmente uma unidade concentrada ou uma unidade espalhada por outras unidades da empresa;
  • a IDI relaciona-se essencialmente com a administração da empresa e com a unidade de produção;
  • gestores / engenheiros de projecto, directores e técnicos são as categorias profissionais de IDI mais
  • presentes nas empresas estudadas;
  • o broker de inovação ainda só se encontra numa das 25 empresas mas é considerado como uma
  • função de especial importância;
  • as habilitações de nível superior são o critério principal para o recrutamento nestas áreas;
  • ao contrário dos restantes países europeus, existe um equilíbrio entre o número de mulheres e homens que desempenham funções no DP da IDI nas empresas portuguesas (incluídas neste estudo);
  • a formação é geralmente realizada por formadores externos, sendo ainda pouco relevante a formação no posto de trabalho; e,
  • a formação visa essencialmente melhorar a qualificação e aperfeiçoar os quadros existentes.

Na sua conclusão a este estudo, Santos sugere uma classificação para o Emprego Científico e Tecnológico no sector empresarial. Essa classificação separa actividades científicas de não científicas. As primeiras subdividem-se em investigação e desenvolvimento, e outras actividades de ciência e tecnologia. As actividades não científicas caracterizam-se pelo seu caracter intensivo em conhecimento e incluem funções como as de director de IDI, gestor / engenheiro de projecto, etc..

A autora avança ainda algumas questões críticas relacionadas com o emprego científico em Portugal:

  • ligação entre os sectores produtivo e académico;
  • impacto do sistema de formação no emprego científico;
  • aparecimento de profissões e competências críticas no DP da IDI; e,
  • o emprego científico como instrumento de competitividade na sociedade do conhecimento.

Este trabalho é bastante bem escrito, directo ao assunto e, por isso, fácil de ler. Descreve um estudo relevante com base numa metodologia sólida.

Peca apenas pela falta da representação visual (gráficos) como complemento à descrição verbal dos resultados obtidos.

Por fim, não resisto a lançar um pouco de polémica. À semelhança da Estratégia de Lisboa, o livro sugere frequentemente que indivíduos com formação superior estão melhor preparados para desempenhar funções no dominío profissional de IDI. Pessoalmente confesso não ver isso como uma relação directa e óbvia. Acredito, especialmente tendo em consideração as características do Ensino Superior em Portugal, que um curso universitário não confere necessariamente as competências, capacidades e abilidades necessárias a este domínio profissional. Da mesma forma, acredito na formação ao longo da vida e pela experiência e é com base nisso que considero não ser nunca de desprezar o papel e o impacto de colaboradores sem formação superior.

(Nota: Este trabalho está disponível aqui.)

Emprego Científico em Portugal - capaSobre o livro:
Emprego Científico em Portugal: Sector Empresarial. Um Contributo
Magnólia Santos. Observatório da Ciência e do Ensino Superior, Portugal, 2006.

1 comment

  1. Ferdinand 28 Janeiro, 2011 at 00:00 Responder

    Adicionando à polemica, também conheço alguns excelentes profissionais sem curso superior. Em seus campos de interesse são imbatíveis. Porém perdem um pouco quando se tem que desenvolver um pouco de teoria. O raciocínio conceitual nem sempre acompanha os “pragmáticos”. Como em tudo, encontraremos excessões aqui e ali.

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