Blogues Proibidos (Pedro Fonseca, 2007)

Blogues Proibidos

Blogues Proibidos - capaCada vez mais se ouve falar de blogues e cada vez se vêem nascer mais. Alguns têm como objectivo a partilha de experiências e pontos de vista pessoais, outros pretendem expôr situações, outros são usados para auto-promoção ou promoção do trabalho do(s) autores, etc.. São muitos os motivos que podem levar à criação de um blogue. E são também muitos os motivos que o podem conduzir à fama e, em alguns casos, à sua “morte”.

Em Blogues Proibidos, Pedro Fonseca conta as histórias de seis blogues portugueses que deram que falar. Usa-as para apontar alguma ingenuidade colectiva em torno dos blogues, a relação entre os blogues e os mídia, bem como algumas das situações menos agradáveis que podem resultar do seu uso.

A primeira história é sobre o FreedomtoCopy. Este blogue anónimo, criado em Outubro de 2006, foi criado com o objectivo de apontar o dedo ao conhecido autor e jornalista Miguel Sousa Tavares acusando-o de plágio no seu livro Equador. Esta história é bastante interessante dado que explora a relação, ainda exploratória, entre a blogosfera e os meios de comunicação social. Devem acusações anónimas ser ecoadas pelos jornais e pela televisão como se de fontes seguras se tratassem? E como se podem apresentar queixas-crime contra anónimos?

A segunda história fala sobre o Abrupto de José Pacheco Pereira, um blogue criado em 2003 com o objectivo de partilhar a sua opinião pessoal sobre assuntos da vida política portuguesa. Em Julho 2006, o famoso blogue começou a ser alvo de ataques de pirataria que causavam que o verdadeiro conteúdo fosse substituído, temporariamente, por informação publicitária. Mas, terá sido o Abrupto um alvo propositado ou terá sido pura coincidência? Terá a escolha do Abrupto sido feita devido ao seu conteúdo ou ao seu grande número de visitantes? Como está a tecnologia preparada para investigar e lidar com situações destas? E qual o papel de outros blogues e dos leitores em situações destas?

O terceiro blogue a merecer destaque é O Diário de Um Jornalista. Nascido em 2004 nas mãos de alguns jornalistas, alguns na altura empregados pel’ O Primeiro de Janeiro, este blogue acusou de forma pública a prática corrente nos jornais portugueses de publicar entrevistas publicitárias. Isto é, alegavam os autores que muitos contratos de publicidade são fechados com a “garantia de entrevistas em suplementos editados” pelos jornais. Alguns dos jornalistas mantiveram-se anónimos enquanto que outros deram a “cara”. A alguns destes a audácia custou caro já que foram despedidos. Este caso concentra-se essencialmente na liberdade de expressão e no aspecto legal de despedir alguém com base na opinião pessoal expressa fora do contexto do seu empregador.

Daqui vamos até ao Do Portugal Profundo. Assinado por António Balbino Caldeira e criado em Agosto de 2003, este blogue envolveu-se, desde cedo, em temas bastante quentes da vida social e política portuguesa. Nomeadamente, trouxe à luz da ribalta a questão da licenciatura do primeiro-ministro José Sócrates, bem como publicou textos relacionados com o caso Casa Pia. Foi exactamente no contexto deste último que o autor foi acusado de desobediência por publicar textos sobre este caso depois de ter sido “lavrado em despacho que proibia a publicação de peças deste processo”. Terão sido essas as verdadeiras razões? Ou terá a censura adoptado uma máscara diferente?

O quinto blogue é Chicken Charles – O Anti-Herói. Este blogue, também anónimo, tinha como alvo o então presidente da Câmara da Covilhã, Carlos Pinto. Com um tom bem humorado, as entradas neste blogue contavam histórias passadas no “galinheiro” presidido pelo “anti-herói”. Este capítulo, que inclui referências a vários outros casos envolvendo blogues regionais, vem realçar a crescente importância dos blogues na política local.

Finalmente, Fonseca fala do blogue Muito Mentiroso, mais um blogue anónimo e também mais um envolvendo o caso Casa Pia. Este texto foca, novamente, na questão do anonimato e na relação entre os blogues e os mídia bem como a relação entre os blogues entre si.

Apesar de já existirem há bastante tempo, é com o recente aumento exponencial do número e da audiência dos blogues que alguns dos problemas e alguns dos “gaps” jurídicos se vêm a notar. É importante que a sociedade em geral esteja alerta e que o governo se mexa no sentido de tapar os buracos legais nesta área. Este é um livro de histórias, bem contadas e todas elas pertinentes. É um ponto de partida para nos ajudar a reflectir e a entender estes aspectos.

Blogues Proibidos - capaSobre o livro:
Blogues Proibidos
Pedro Fonseca. Centro Atlântico, Portugal, 2007.

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