A web 2.0 tem dado que falar. E se algumas pessoas sabem bem do que se fala quando nos referimos à web 2.0, outras não. Este livro parecia vir tentar desmistificar este conceito, apresentando de que forma tem vindo a ser usado e a ter impacto em várias áreas da sociedade.
“Estamos na era da participação, da colaboração, da interação, da simplicidade e da transparência.”
(p 14)
O primeiro capítulo faz um breve retrato da sociedade actual e da forma como a Internet, desde o seu aparecimento, tem influenciado a maneira de estar e comunicar das pessoas. Fala das ilegalidades na Internet (cibercrime, phishing, pedofilia, etc.) e do eGoverno. O advento de alguns sites hoje emblemáticos, como sejam o YouTube, o Facebook, etc., é também tema deste capítulo.
O segundo capítulo, que constitui a maior parte do livro, reflecte sobre a web 2.0 em várias áreas: marketing e publicidade, comunicação social, empresas e negócios, sociedade, educação, política, saúde, cultura, lazer e religião.
Cada área inclui um texto com um ponto de situação, alguns exemplos, um caso de estudo “made in Portugal” e o comentário de alguma pessoa respeitada no tema em causa. Apesar desta estrutura ser interessante, os casos de estudo são apresentados muito superficialmente e muitos dos comentários são meras retóricas repetitivas do óbvio. No entanto, o ponto da situação escrito em texto corrido mas com a inclusão de ideias e opiniões citadas de vários profissionais é bastante interessante.
Enquanto que as secções dedicadas à comunicação social, ao marketing e publicidade, à sociedade e à educação têm muito sumo e vários exemplos interessantes, as outras secções deixam um pouco a desejar. E a primeira é exactamente a dedicada a empresas e negócios.
Se já tinha havido uma secção dedicada ao marketing e publicidade, esperava que uma secção sobre empresas e negócios reflectisse sobre a utilização das ferramentas web 2.0 internamente. No entanto tal não acontece. Fala antes, e essencialmente, da web 2.0 para recrutamento. Bastante pobre e limitado, especialmente tendo em conta as palavras de Francisco Maria Balsemão, presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, que no início da secção diz
“Numa empresa, a web é uma ferramenta essencial para a divulgação, promoção e comercialização de produtos / serviços; para a interação com o consumidor final; para o desenvolvimento de estratégias de comunicação, marketing e publicidade; para a otimização da gestão; para a melhoria da organização interna; para o reforço do espírito de equipa; para a partilha de conhecimentos; para a expansão da rede de networking, entre outras vantagens evidentes.”
(p 91)
A secção de sociedade é muito interessante pois reflecte sobre o impacto da web 2.0 na forma como as pessoas socializam, namoram, apoiam causas, gerem a própria morte ou a morte de familiares (no que diz respeito aos dados pessoais disponíveis online).
Apesar de válida, a secção de educação inclui algo que me deixou bastante confusa: uma lista de “eFerramentas” (como lhe chamam). Em primeiro lugar, não percebo bem o porquê de serem aqui listadas sem pelo menos uma referência ao facto de que praticamente todas podem ser aplicadas noutros contextos, nomeadamente dentro das organizações. Em segundo lugar, porque a lista mistura, indiferenciadamente, “ferramentas” genéricas (blogue, wiki) e aplicações específicas (Google Docs, Mindjet, etc.).
O terceiro e último capítulo do livro apresenta os resultados de um estudo sobre o papel da web 2.0 no franchising. É uma área muito específica e a amostra de respostas não foi muito extensa, mas os resultados permitem, como a autora do estudo (Salomé Peixoto) refere, uma ideia das tendências.
Este trabalho é de fácil leitura. O grafismo do livro é extremamente agradável (com excepção da secção Lazer onde o verde, contra o fundo branco, se torna difícil de ler) e é uma lufada de ar fresco no que diz respeito a publicações nestas áreas em Portugal. É de lamentar, porém, a quantidade de gralhas tipográficas que se encontram ao longo de todo o livro.
Para além disso, é uma pena que um livro que teria todas as condições para “desmistificar” e esclarecer sobre o que é realmente a web 2.0, como pode ser observada e como se pode traduzir nos vários sectores, venha, de alguma forma, contribuir para a confusão. Na verdade, muitos dos exemplos apresentados e muita da reflexão presente no livro tem a ver com a Internet enquanto canal de conteúdos e não com as funcionalidades (utilizações) para interacção, colaboração e socialização que caracterizam a web 2.0.
Ainda assim, este trabalho merece ser lido já que cria uma retrato muito interessante da Internet nas nossas vidas e alerta para os perigos, realçando também os benefícios. Claro que acabou de ser publicado e já está desactualizado mas, o mundo não pára e é importante tirar fotografias hoje que nos permitam entender o lugar onde nos encontraremos amanhã.
Sobre o livro:
Web Trends – 10 cases made in web 2.0
Ana Sofia Gomes (co). Comunicarte Publishing, Portugal, 2010.
Ana, muito obrigada pelo seu review. Na verdade, este livro, Web Trends, nunca teve a pretensão de desmistificar o conceito de web 2.0 e todos aqueles que com ele estão relacionados. Até porque a Comunicarte Publishing, editora e autora da publicação, não é especialista na área, como explicamos na Apresentação, mas em comunicação. O nosso propósito foi sempre o de reunir num livro vários pontos de vista. E obviamente que, tendo nós abordado tantos assuntos, sabíamos que uns ficariam mais bem retratados que outros.