Adoro histórias. Quando era mais nova encontrava nas histórias entretenimento e uma porta para descobrir novos mundos e possibilidades. Hoje em dia estou convencida do valor que têm como forma de envolver e convencer pessoas, e como forma de transmitir conhecimento tácito sobre como as pessoas trabalham, pensam e se comportam.
Não admira por isso que eu tenha gostado tanto de ler o livro Putting Stories to Work de Shawn Callahan. Shawn é o fundador da Anecdote, uma empresa de storytelling que está na origem de muitas das ideias e histórias neste livro.
Shawn Callahan arranca com uma breve história das histórias e as vantagens de as usar em contextos organizacionais. Nomeadamente, refere as histórias como forma de envolver as pessoas, inspirar ação, influenciar decisões, partilhar lições aprendidas e combater mentiras.
“Sharing real-life stories bestows on a leader the superpowers of memorability, meaningfulness and emotionality, all of which are essential in a business world where relationships, trust and the ability to adapt have become crucial capabilities.”
Embora todos contemos histórias, o storytelling organizacional não é uma competência inata e poucos líderes o fazem. O hábito de contar histórias no contexto organizacional depende de haver motivação, competências e repertório.
“The mark of a good business story is that it changes behaviour and inspires action.”
Uma grande parte do livro é dedicada às quatro fases da maestria em histórias de negócio (business story mastery):
- descobrir histórias para contar;
- lembrar as histórias rapidamente;
- partilhar as histórias com eficácia; e
- renovar as histórias quando já não têm o impacto pretendido.
Na fase da descoberta é importante aprender como:
- reconhecer boas histórias de negócio;
- criar o hábito de as guardar;
- encontrar as próprias histórias;
- criar condições para evocar histórias dos outros;
- escolher as melhores perguntas para revelar boas histórias;
- identificar histórias em livros, filmes, anúncios, etc.

Modelo criado pela Anecdote para ajudar os líderes a identificar histórias organizacionais: momento/lugar, eventos interligados, pessoas que dizem ou fazem alguma coisa, a revelação de algo desconhecido ou surpreendente, e valor para a organização.
“For stories to be memorable, not only to our audience but to us as well, they need to be visual, emotional and interesting.”
As histórias podem ser divididas em dois tipos:
- padrões (story paterns), desenhados para atingir um resultado através de uma estrutura narrativa específica;
- histórias temáticas (topic stories), as mais frequentes, que ignoram a estrutura e procuram simplesmente ilustrar uma ideia ou conceito de negócio.
As histórias temáticas podem ser de valores, de inovação, de lições aprendidas, de visão, etc. No que diz respeito aos padrões, é possível identificar sete: histórias de ligação; histórias de clarificação; histórias de influência; histórias de sucesso; histórias de fundação; analogias; parábolas, fábulas e contos de fadas.

Magic Triangle of business storytelling – by Shawn Callahan
A capacidade de contar uma história também envolve saber o momento certo para a contar. Da mesma forma, também é importante ser capaz de perceber que é tempo de renovar e de deixar de contar uma determinada história.
O caminho para a maestria do storytelling demora a percorrer. O livro sugere um plano de desenvolvimento pessoal baseado em prática deliberada. Este plano acompanha a pessoa através de cada uma das quatro fases descritas acima.
Quando se trata de trazer as histórias para dentro da organização, o autor refere o triângulo mágico: a história de estratégia, capacidades de storytelling e histórias de sucesso.
“Bring together these three areas in a company – the strategy story, story skills and success stories – and you have what I call the magic triangle of business storytelling.”
As histórias são importantes nas organizações porque:
- as pessoas precisam compreender o propósito e os princípios da organização, e as razões por trás das grandes decisões;
- é importante que as pessoas tenham a capacidade para usar histórias para influenciar e inspirar os outros;
- encontrar e partilhar histórias é uma forma fantástica de entender e comunicar expetativas.
Shawn Callahan conclui o livro com uma reflexão sobre a ética do storytelling organizacional. Nomeadamente ele fala do que fazer – contar histórias como acreditamos que se tenham passado e protegendo confidências, por exemplo – e do que não fazer – tal como colocar pessoas em situações onde se sentem obrigadas a partilhar histórias que não querem contar.
Como seria de esperar este livro está carregado de histórias que dão contexto e ilustram as ideias avançadas pelo autor. Mais ainda, algumas das histórias dão ótimas ideias práticas de como as organizações podem abraçar o storytelling como ferramenta de gestão e liderança.
O autor diz que as histórias são um manual de utilização para a vida. Daí derivo que as histórias são um manual de utilização para as organizações. E isso é entusiasmante! E essa é a razão pela qual o storytelling é a espinha dorsal do evento Social Now que desenhei e organizo, e que este ano vai ter a Victoria Ward a partilhar dicas práticas relacionadas com storytelling nas organizações.
Sobre o livro:
Putting Stories to Work
Shawn Callahan. Pepperberg Press, Australia, 2016.