Este trata-se de um pequeno livro que pretende constituir-se como um suporte documental de rápida leitura, capaz de resumir as principais bases de referência no domínio da inteligência competitiva (IC) e de colmatar a ausência de bibliografia portuguesa neste tema. Pretende também “desenvolver (…) um modelo conceptual que possa subsidiar o desenvolvimento de uma ferramenta de suporte à IC, ou mesmo a aquisição de uma solução existente no mercado que possa ser utilizada pelos técnicos responsáveis pela inteligência na organização” (p 24).
O primeiro capítulo do livro apresenta uma série de conceitos relevantes e de modelos, como por exemplo para análise da envolvente externa ou para cooperação estratégica. Este capítulo identifica também algumas tendências de mercado, explora uma série de perspetivas sobre o que é a IC e faz uma rápida viagem pela história da disciplina.
O segundo capítulo apresenta vários modelos de IC descritos na bibliografia e descreve o modelo considerado pelos autores neste livro.
“Para o efeito de uso neste trabalho, a IC será definida como um ciclo de processos compreendendo o planeamento, o processamento, a recolha, a análise e disseminação de informações sobre o mercado externo a serem utilizadas no processo de tomada de decisão, proporcionando vantagem competitiva aos setores de interesse da organização (…) e que passam todas as fases da espiral do conhecimento.” (p 60)
No capítulo seguinte, Gonçalves e Malta Coelho olham com algum detalhe para o que diferentes autores consideram ser os objetivos do processo de inteligência e as etapas desse processo. No decurso desse levantamento, falam das fontes de informação, dos produtos da IC e do caráter crítico que tem a forma como estes chegam aos seus destinatários finais.
A componente ética, tão importante quando se fala da inteligência competitiva, foi referida pelos autores em alguns momentos.
“É muito importante que as pessoas envolvidas com a IC estejam conscientes de que a obtenção de dados deve ser feita de forma ética e transparente. (…) Agir de acordo com os mais altos padrões éticos é a maior e mais importante responsabilidade de um profissional de inteligência.” (p 71)
O tema das tecnologias de informação de suporte ao processo de IC surge também no terceiro capítulo. Aqui os autores mostram como a bibliografia disponível relaciona diferentes tipos de tecnologias às distintas fases da IC. Vão ainda mais além, destacando as principais características de 3 ferramentas, nomeadamente a Cortex Competitiva, a SAPIC e a Autonomy. Esta foi uma decisão corajosa, considerando a volatilidade deste mercado, não só em termos da rapidez dos avanços tecnológicos mas também na dinâmica de relacionamento entre empresas. A Autonomy, por exemplo, que os autores até apresentam nas suas considerações finais “como ferramenta auxiliar para a atividade dos analistas de informação, atuando dentro da sua experiência e preparação”, tem estado a ter um percurso turbulento já desde a publicação do livro e não é clara a disponibilidade desta ferramenta que Gonçalves e Malta Coelho descrevem como “software dedicado à atividade de prospeção de informações nos ambientes internos e externos”.
O livro peca pela forma como está escrito: magoa a língua portuguesa de uma forma que não se aceita num trabalho publicado; foi evidentemente escrito por duas pessoas com estilos bem diferentes; e repete alguns conceitos, muito provavelmente fruto da escrita a duas mãos.
Ainda assim, e de uma forma geral, o livro cumpre os objetivos a que se propõe. Espera-se que seja um pontapé de saída para a publicação de mais trabalhos sobre IC e para uma maior valorização deste tema por parte das empresas portuguesas.
Sobre o livro:
Inteligência Competitiva
Conceição Gonçalves e Paulo Malta Coelho. Chiado Editora, Portugal, julho 2016.
Como autor do livro Inteligência Competitiva, quero deixar a promessa de publicar uma nova versão mais completa, melhorada e corrigida, teremos em atenção as sugestões dos nossos leitores e críticos. Com a primeira versão tencionamos disponibilizar uma manual prático e de fácil acesso a qualquer público e com uma linguagem acessível.
O feedback que temos recebido “obriga-nos” a corresponder às expectativas dos leitores, interessados e profissionais da área.
Queremos contribuir para expandir o que é a Inteligência Competitiva, qual a sua área de atuação, a sua importância e em português.
Que bom, Conceição. Cá ficamos a aguardar.