No âmbito da recente entrevista a Paulo Nunes de Abreu, fiquei a saber que este proclamado arquiteto da colaboração publicou um livro justamente sobre o tema da arquitetura da colaboração. Segue-se um breve resumo e análise crítica desse trabalho.
Este livro “destina-se a todos os gestores e consultores que se queiram aperfeiçoar como líderes facilitadores”, um perfil especialmente crítico nos dias que correm. Na verdade, em face de situações complexas como as que caracterizam o dia-a-dia organizacional, as melhores soluções são as que reunem consenso. O autor defende que os arquitetos da colaboração são uma peça importante para justamente conseguir esse consenso.
A arquitetura da colaboração considera três dimensões – pessoas, local de trabalho e tecnologia – pelo que um arquiteto de colaboração necessita de intervir nessas mesmas dimensões.
“A essência do trabalho da facilitação é precisamente a de criar e manter as condições necessárias para uma decisão grupal eficaz. […] esse trabalho de facilitação não é exclusivo dos facilitadores”. É por isso que o livro considera e distingue facilitadores e líderes facilitadores.
Distingue também reuniões convencionais, reuniões participadas e workshops, nomeadamente em termos de modelos de participação, tom, papéis, etc.
“Num workshop a colaboração é baseada na confiança, inclusão e participação construtiva para alcançar um propósito comum e amplo.”
Bebendo do trabalho de David Strauss (How to Make Collaboration Work, 2012), Paulo Nunes de Abreu fala dos 5 passos para arquitetar a colaboração: envolver as partes interessadas; construir o consenso de forma faseada; projetar um mapa de processo; designar um facilitador; e aproveitar o poder da memória de grupo. Estes, aliás, são também apresentados como os passos necessários para que um líder facilitador se transforme num arquiteto da colaboração.
O modelo hierárquico dos processos colaborativos apresenta 4 níveis, com crescente nível de impacto e trabalho de preparação: básica ou espontânea, avançada ou planeada, aumentada, e genuína.
Pessoalmente, um dos capítulos mais interessantes do livro é o que se debruça sobre a gestão da memória do grupo. (Não fosse eu uma eterna apaixonada pela aprendizagem coletiva e pela gestão de conhecimento!) Neste capítulo, o autor apresenta um conjunto de recomendações que permitem contornar os nove problemas que David Strauss indica decorrerem da falta de memória de grupo: a repetição e o andar em círculos; desigualdade; a associação de ideias com pessoas específicas; a perda de foco; as limitações da palavra escrita; a sobrecarga de informação; as perturbações causadas pelo atraso de participantes; acordos vagos; e falha de memória.
Um outro capítulo que também considerei particularmente útil, explora cinco variáveis a considerar para arquitetar o processo colaborativo num workshop: espaço, tempo, vivência, produto e estilo (em inglês, space, time, eventfulness, product, e style, que resulta no acrónimo STEPS). Também aqui são propostas várias recomendações práticas que podem fazer a diferença.
“a facilitação é uma atividade profissional que exige um aperfeiçoamento contínuo no qual o nosso próprio autoconhecimento como pessoa e o desenvolvimento da nossa intuição social desempenham um papel importante”
O capítulo final olha para as ferramentas digitais como um auxiliar do processo colaborativo. São referidas ferramentas de videoconferência, flipcharts digitais, ambientes 3D, e ferramentas GDSS (Group Decision Support Systems).
Paulo Nunes de Abreu verte para este livro anos de experiência e muito conhecimento adquirido pela pesquisa que fez no contexto do seu Doutoramento em Ciências de Gestão pela Universidade de Lancaster. Os conteúdos são relevantes e há muitas ideias práticas que podem ser aplicadas com a consciência do seu propósito e impacto.
Apesar de falar bastante na tecnologia e várias vezes referir o papel das ferramentas digitais, senti falta de uma maior reflexão sobre as especificidades das reuniões online, isto é, em que todas as pessoas participam à distância através de ferramentas web. São sessões com nuances específicas que podem inviabilizar ou ter impacto nalgumas das sugestões apresentadas, ao mesmo tempo que podem abrir a porta a novos modelos de participação não possíveis em reuniões presenciais.
Trata-se de uma edição de autor, que apresenta fragilidades no que diz respeito à estruturação do conteúdo e cuja mescla de português de Portugal com o português do Brasil, distrai um pouco. Ainda assim, vale pela coleção de recomendações práticas e pela forma como apresenta a crescente importância de líderes facilitadores ou, pelo menos, conscientes da necessidade de uma cuidada facilitação.
Sobre o livro:
Arquitetar a Colaboração: 5 Passos para uma Liderança Facilitadora
Paulo Nunes de Abreu. Publicação de autor, 2018.
Mais informação sobre o livro
Uma revisão muito completa Ana, mais do que merece esta obra, talvez. Um modesto contributo apenas, que me honra muito ver na galeria de revisões do KMOL, estar junto com obras de magna importância!!
Concordo com as observações e é um repto, para uma próxima edição aprofundar sobre das reuniões online.
Neste momento o que tenha na ‘forja’ está no KickStart:
https://www.kickstarter.com/projects/1493839859/hosting-the-perfect-management-retreat-and-company