Há uns meses comprei o livro Outlearning the Wolves: Surviving & Thriving in a Learning Organization de David Hutchens. O livro ficou sentado numa prateleira. Até agora. Ontem, peguei nele. Sessenta minutos foi o tempo de que precisei para o ler, sublinhar, anotar, e ainda para o comparar, lado-a-lado, com o “velhinho” The Fifth Discipline Fieldbook do Peter Senge que há tantos anos me acompanha.
Outlearning the Wolves é uma fábula da autoria de David Hutchens, originalmente publicada em 1998 e agora já na sua quarta edição. Convida as pessoas a refletir sobre o que é a aprendizagem organizacional (dica: não é a aprendizagem individual no contexto de uma organização) e sobre a importância da aprendizagem organizacional para a inovação e para a mudança.
Otto, Curly e Gigi são algumas das ovelhas que nos acompanham nesta fábula, aparentemente simples mas cheia de pontos para reflexão. O texto tem uma boa dose de humor e adorei as ilustrações que o acompanham.

Mas este livro não é só a fábula. Antes de mergulhar na história, o autor, um conhecido defensor do storytelling, posiciona as histórias como um instrumento para criação de mudança, construção de cultura, disseminação de aprendizagem e captura de conhecimento.
“the first purpose of the story (…) in organizations it is to create change” | David Hutchens
Partilha também a sua Matriz de Storytelling que oferece orientação no momento de escolhermos a história certa para o que pretendemos.
“the richest organizational stories are the ones that capture the essence of the organization’s identity (…) but also contain enough ambiguity, frayed edges, and unresolved plot threads and metaphors so that there is still plenty of meaning for organizational members to unpack.” | David Hutchens
Depois da fábula, há ainda um capítulo que nos recorda as ideias de Peter Senge celebrizadas no livro The Fifth Discipline Fieldbook, relacionando-as com as personagens e situações da fábula.
“The hard part is creating change that is both sustaining and transformational. (…) this kind of change is initiated only when individual people are deeply engaged with the change process, personally and emotionally. This is change that requires learning.” | David Hutchens
E, mesmo que o conteúdo da autoria não valesse a pena, valeria a pena pegar no livro para ler o prefácio de Robert Fritz. Uau!
“change takes something special: organizational learning. (…) Organizational learning is an outcome of an enterprise-wide thought process in which reality can be understood from collective vantage points. (…) Rather than attempting to determine who is right and who is wrong, we are able to explore reality objectively, collectively, clearly, and from a larger perspective.” | Robert Fritz
Numa altura em que o debate está tão polarizado, esta forma de descrever a aprendizagem organizacional faz-me ansiar por aprendizagem societal.
“Mindfulness comes from the ability of an organization to rethink everything.” | Robert Fritz
Este livro…
- é uma fábula – um formato que aprecio bastante por acreditar tanto no poder do storytelling (Ghost Story é uma outra fábula de que já aqui falei);
- foca-se na aprendizagem organizacional – um tema central à minha atividade nos últimos 25 anos;
- assenta no trabalho de Peter Senge, autor que descobri em 1998, pela mão do meu professor Artur Ferreira da Silva, e que influenciou toda a minha trajetória profissional;
- posiciona a aprendizagem organizacional no centro do processo de mudança, uma tema tão urgente como assustador para a maioria das organizações.
Em resumo, valeu cada minuto que passei a folhear as suas páginas.

Sobre o livro:
Outlearning the Wolves: Surviving & Thriving in a Learning Organization
David Hutchens. USA, 2016.