Em 2017 assinou o livro Social Technologies in Business que conta com contributos de vários profissionais. Desta vez, Isabel De Clercq publica “sozinha” mas com palavras que refletem práticas de várias organizações e que procuram dar resposta a preocupações de muitas mais. O tema é o trabalho distribuído.
Apesar do livro se intitular Hybrid Work, a Isabel concorda com outros autores que defendem que a expressão “trabalho distribuído” é melhor para descrever a forma como trabalhamos ou, pelo menos, a forma como prevemos estar a trabalhar num futuro próximo. Como ela escreve: “Work happens at different locations and most importantly these different locations are valued equally.” (p 17)
A Isabel De Clercq sugere que não devemos tratar o trabalho híbrido como uma moda passageira e refere várias organizações que há algum tempo abraçam com sucesso esta forma de trabalho.
“I dream of an organization that goes digital as much as possible not to enable people to copy the office at home but to connect employees to knowledge beyond the barriers of time, place and hierarchy.”
A COVID-19 despoletou muitas das mudanças que vemos atualmente em organizações à volta do mundo. Apesar disso, nem todas as organizações estão verdadeiramente a abraçar o trabalho híbrido. O livro lista seis indicadores de que uma organização o está a fazer:
- não tem regras rígidas, apenas princípios orientadores que dão às pessoas “freedom within the framework”;
- respeita as necessidades e preferências pessoais;
- aceita que não tem todas as respostas;
- institucionalizou tempo de concentração (“focus time“);
- promote colaboração assíncrona;
- abraça a aprendizagem ao longo da vida.
A autora fala da “Santíssima Trindade dos Bs” – bricks (tijolos, como referência ao escritório), bites (como referência às plataformas digitais) e behaviour (como referência aos comportamentos e cultura organizacionais) – e a da importância de serem todos valorizados.
Este é um livro pequenino e fácil de ler. É o equivalente a um filme “feel-good” mas em formato escrito e focado no mundo das organizações. Está muito bem escrito; e às vezes roça o poético.
O livro destaca os muitos benefícios de trabalhar fora do escritório, dando argumentos para convencer aqueles que já fazem força para o retorno aos contextos de trabalho pré-pandemia.
Senti falta de uma perspectiva mais imparcial, que também reconhecesse os benefícios do trabalho no escritório. O trabalho híbrido só será possível quando as organizações reconhecerem os pontos fortes do trabalho no escritório e do trabalho “em casa” e conseguirem combiná-los da melhor forma para responder aos objetivos organizacionais e às preferências dos colaboradores.
Apesar de ser um livro tão pequeno, extraí algumas ideias muito interessantes.
Assincronicidade
Fiquei surpreendida com a força com que a Isabel canta o valor do trabalho assíncrono e pela linha tão forte que traça entre o trabalho assíncrono, o “pensamento lento” e o tempo de concentração.
Ligações
A ligação entre colegas é provavelmente o argumento mais comum para defender o regresso ao escritório. Porém, a Isabel defende que, mesmo com a proximidade física, a ligação não se estabelece se não existir uma outra coisa: “The glue between employees is the work itself”.
E isso significa que os colabores podem estabelecer boas ligações entre si mesmo trabalhando a partir de locais diferentes.
Reuniões
No livro, a Isabel fala do trabalho de Priya Parker que fala de reuniões como contratos e de autoridade generosa. Este segundo conceito tem a ver com a facilitadora de uma reunião dever exercer a sua autoridade para garantir que os objetivos da reunião são alcançados.
Teoria da Auto-Determinação
Não sei se já alguma vez tinha ouvido falar da teoria da auto-determinação. Esta teoria de Richard Ryan e Edward Deci identifica três necessidades psicológicas básicas:
- autonomia – porque precisamos de poder fazer o que precisamos de fazer;
- pertença;
- competência – “um sentimento de confiança e eficiência”.
Gostei bastante da forma como a Isabel De Clercq relaciona esta teoria com o trabalho híbrido, listando estas três necessidades como importantes requisitos para todos aqueles que trabalham num contexto híbrido.
“In my dream knowledge workers are employed on strengths and managers encourage them to further develop them.”

Sobre o livro:
Hybrid Work: a Manifesto
Isabel De Clercq, die Keure, 2021.