Becoming Adaptable (Shelley, 2021)

Becoming Adaptable

Em 2017 tive a oportunidade de entrevistar o Arthur Shelley. Falámos de gestão de conhecimento mas principalmente da sua metáfora do Organizational Zoo. Cinco anos depois, trago o meu resumo e opinião sobre o seu livro Becoming Adaptable (2021) e ainda algumas palavras do autor.

“With technological advances and changes in societal expectations, by the time something becomes a new pattern that we can predict and feel comfortable with, everything has changed.” (p 29)

A adaptabilidade é cada vez mais importante já que temos necessidade de responder e de nos ajustar ao contexto em que estamos e que está em permanente mudança. Como escreve o autor, a melhor forma de nos prepararmos para as mudanças inevitáveis “is to proactively evolve yourself, stretching your comfort zone before being forced to”.

Assim, Arthur escreve que tornarmo-nos adaptáveis é:

  • “about consistently building your repertoire of knowledge, skills and (mostly) behavioural capabilities to optimise your choices”; e,
  • “a way of learning to consciously, competently, and confidently navigate your life’s journey”.

Sermos adaptáveis significa que podemos decidir e gerir os nossos próprios comportamentos, e que podemos influenciar o comportamento dos outros. Este último benefício tem importantes implicações éticas e merece a nossa cuidada reflexão.

Os jogos e o agile (como abordagem ao trabalho) são duas situações que requerem capacidade de adaptação. Simultaneamente, podem ser usados como forma de treinar a adaptabilidade.

“For some people a highly adaptable style is a natural talent; for some it is a deliberately learned behaviour; and for others adaptability is limited.” (p 72)

O sexto capítulo do livro é o meu preferido. É sobre conversas que importam (“conversations that matter”), a espiral das conversas colaborativas, e processos para cocriação de conhecimento.

“Conversations that matter” é um método descrito pelo próprio Arthur Shelley no seu livro Being a Successful Knowledge Leader (2019). Este método defende conversas com cinco componentes principais: propósito, produtos (outputs), resultados (outcomes), benefícios e beneficiários. Os mesmos componentes podem ser usados para desenhar atividades de aprendizagem e workshops.

Mapa mental das "conversations that matter"

Uma representação visual dos cinco componentes das “conversations that matter” (fonte: site The Organizational Zoo)

“Everything humans do is influenced by behaviour. When things do not go to plan, the failure often relates to misaligned behaviour.” Ser adaptável passa por ser capaz de escolher o comportamento mais adequado a uma circunstância. Ainda que essa capacidade seja natural para algumas pessoas, normalmente precisa de ser aprendida e praticada.

Cartas do OrgZoo
Cartas do Organizational Zoo, já traduzidas para várias línguas

O Organizational Zoo (OrgZoo) mantém-se um relevante e robusto conjunto de metáforas para descrever o comportamento das pessoas. “The OrgZoo character set provides a politically neutral language to explore the behaviours as separate entities from the people displaying them.” Pode ser usado para descrever como cada pessoa se comportou num certo momento, como se deveriam ter comportado, ou os comportamentos que uma organização espera das suas equipas, por exemplo.

“The power of OrgZoo is that people from all cultures can recognise a behaviour as the same thing while disagreeing about the acceptability of that behaviour.” (p 65)

As metáforas do OrgZoo têm sido usadas como base para muitas atividades diferentes em sessões de trabalho e para promover conversas que importam. O livro detalha muitas dessas atividades. Sem respostas predeterminadas, certas ou erradas, estas atividades envolvem os participantes, convidando-os a partilhar o seu conhecimento e as suas perceções e permitindo ao grupo cocriar novo conhecimento e insights.

Cartas do OrgZoo durante o Behavioural DNA
Cartas do OrgZoo durante o Behavioural DNA, uma das atividades descritas no livro

O Arthur defende vivamente o papel chave da facilitação. “Expert facilitation is not a formula: it is a creative improvisation that is inclusive of everyone in the room.”

“The socialisation of many perspectives enables the mixing of ideas to create new possibilities that any one party would not have generated alone.” Os facilitadores desempenham um papel de catalisador, um elemento neutro que cria um espaço seguro para os participantes poderem “own the dialogue and the outputs and outcomes it generates”.

Uma das secções deste livro é maioritariamente dedicada ao OrgZoo: a sua rede de embaixadores, e as teorias que suportaram o desenvolvimento e suportam as atividades do OrgZoo. O livro inclui muitas histórias de embaixadores do OrgZoo que nos relatam como usaram este conjunto de metáforas em variados contextos e para uma multitude de produtos e resultados.

Para além do OrgZoo e das “conversations that matter”, o livro convida-nos a revisitar outros interessantes e valiosos conceitos também introduzidos por Arthur Shelley noutros livros da sua autoria:

  • a Reverse Bloom Learning Framework (RBFL) – “a social process that engages participants in knowledge cocreation”;
  • MindFLEX, uma expressão que o autor usa para descrever um estado de espírito aberto à mudança (em oposição ao mais rígido mindSET);
  • lifestyle learning is an evolution of lifelong learning that happens within our chosen lifestyle”.

A última secção do livro é sobre a jornada individual de nos tornarmos adaptáveis. A mensagem mais importante, tal como nos sugere o título de um dos capítulos, é que um mesmo comportamento pode ser um trunfo ou um problema – depende do contexto. Assim, tornarmo-nos adaptáveis é, acima de tudo, sermos capazes de escolher o comportamento mais adequado à situação em que nos encontramos.

Os meus destaques

Redes

“Imagine what we could achieve together if we strive for mutual benefits that are fairly distributed” (p 17)

“Much could be achieved if we were more adaptable and open to collaboration in networks of associations rather than hierarchies.” (p 51)

Estas duas frases fizeram-me imediatamente pensar no conceito de “comunidades de intenção e impacto” que a Céline Schillinger nos descreve no seu livro Dare to Un-Lead.

Aprender como aprender

“The most important aspect of facilitating learning is the participants learning how to learn” (p 91)

Esta ideia é-me muito querida e adorei a forma eloquente com que o Arthur a descreveu. Para mim, assemelha-se a algo em que acredito – e que pratico: quando faço um questionário para identificar práticas organizacionais, redijo as questões de forma a que elas possam motivar quem responde a aprender mais ou a ambicionar criar essas práticas.

Práticas ou comportamentos

“Behaviour is all about people and the way they interact. It is the foundation of culture and the basis of relationships in a connected society.” (p 159)

É muito normal falar de cultura organizacional. Quando tento definir os contornos da cultura de uma organização normalmente olho para as suas práticas. É uma abordagem mais fácil, rápida e menos invasiva de perceber a cultura dominante.

Este livro fez-me pensar que talvez deva encontrar formas de identificar os comportamentos das pessoas em dadas circunstâncias. Estou certa de que as metáforas do OrgZoo podem ajudar, mas desconfio que elas não seriam viáveis em muitos dos meus projetos – seja por uma questão de tempo (leia-se orçamento) ou por questões culturais. Terei de encontrar outras. Sugestões?

Sobre liderança

Liderança é “having willing, intelligent followers”.


Concordo com o Arthur quando escreve que este livro é um “manual of activities for use by facilitators who seek highly interactive approaches to engage participants in deep social learning”.

Ao ler o Becoming Adaptable fiquei também com a sensação de que o livro se trata de um legado do pensamento e do trabalho do Arthur Shelley.

As secções intermédias parecem uma compilação de artigos passados. Há um foco grande no OrgZoo e até alguma repetição de ideias em alguns dos capítulos deste livro de autor.

Apesar disso, gostei de ler Becoming Adaptable. É um livro útil para facilitadores e estou certa de que a ele irei recorrer quando precisar de preparar “conversations that matter”.

O Arthur Shelley é um dos “dadores” no mundo da gestão de conhecimento. Essa sua natureza está refletida nas páginas deste livro: uma dádiva que gentilmente escreveu para nós, partilhando o seu vasto conhecimento, rica experiência e valiosas aprendizagens.

Sobre o livro:
Becoming Adaptable: Creative Facilitation to Develop Yourself and Transform Cultures
Dr Arthur Shelley. Intelligent Answers Pty Lda, 2021.


Palavras do autor

Quando me preparava para publicar este texto, contactei o Arthur para lhe pedir fotos das cartas do OrgZoo. Ele partilhou as fotos que ilustram este texto e também respondeu a duas questões que lhe coloquei.

Às vezes, e com as claras exceções da primeira e da última secções, o livro parece uma compilação de alguns dos teus escritos já publicados. É uma afirmação justa?

O livro original do OrgZoo descrevia as personagens e alguns jogos básicos. Não detalhava as muitas formas como as cartas podem ser usadas, até porque muitas delas foram evoluindo com a experimentação e com a aplicação criativa já depois do livro ter sido publicado.

Para mim, este livro pretende oferecer um nível prático de detalhe sobre como usar o OrgZoo como facilitador de Becoming Adaptable.

O que percebi ao longo dos anos é que as pessoas adoram o conceito do OrgZoo e apreciam a sua criatividade. Porém, e ainda que se divirtam com ele, não sabem como tirar melhor partido dele para o desenvolvimento construtivo (próprio ou para facilitação de atividades para outros). Há muitos “facilitadores” inexperientes que simplesmente agarram numa técnica e assumem que a “conhecem”. Por isso é que é importante clarificar os princípios.

Também quero garantir que as atividades são bem conduzidas, já que sei de exemplos passados em que algumas pessoas usaram o OrgZoo desapropriadamente (por exemplo usando as personagens para categorizar pessoas quando elas só devem ser usadas para descrever comportamentos).

Não quero ser demasiado prescritivo (eu sempre encorajei o aparecimento de adaptações criativas) mas é importante partilhar os detalhes e princípios para maximizar o impacto que as atividades podem ter.

Quais são as as expetativas para este livro, Arthur?

Não escrevi o livro pelo livro: antes para poder ajudar pessoas a fazer a diferença.

Agora que me aproximo da reforma, queria partilhar tantos dos conceitos práticos que aprendi quanto possível. O objetivo é que outros possam continuar a gerar benefícios – para si próprios e através do coaching e mentoria de outros.


Leituras relacionadas

Ao ler este livro vieram-me à cabeça:

Nota: Este texto está disponível em inglês no LinkedIn

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