Neste terceiro episódio estivemos à conversa com Rute Viais, Knowledge Culture Manager numa multinacional alemã.
Com muitas metáforas e boa disposição, a Rute abordou temas como o lixo digital, a importância da auditoria contínua de conhecimento, e o cuidado a ter para cuidar da gestão de conhecimento desde o recrutamento de uma pessoa até que ela saia da organização.
Frisou a necessidade de equipar os colaboradores com ferramentas que os ajudem a discernir que conhecimento é importante para si e destacou conceitos de crosschecking (ou auditoria).
Entrevista gravada dia 3 abril 2023.
A gestão de conhecimento é tudo menos aborrecida
Rute Viais
Sobre a Rute

Do tipo “estudante compulsiva”, a Rute intercalou as duas licenciaturas em Gestão e Administração Pública e Relações Internacionais, com experiência profissional, formação em Gestão Global no Brasil (através do Programa Contacto), pós-graduação em Ciências Políticas, Business Intelligence, Chinês, literacia visual… Tudo isto empurrou a conclusão do seu mestrado em Política para além do que o esperado. “Mas valeu todo o tempo e esforço, pela descoberta e diversão até, para escrever o que poderia ser livro, sobre grupos de interesse, lobby, network, ainda o LinkedIn e afins não eram tão populares.”
Com mais de 15 anos de experiência profissional, maioritariamente internacional, e em diferentes setores, maioritariamente no domínio dos serviços e soluções globais partilhadas. A sua experiência em design thinking, melhoria contínua, e melhoria de processos é o que a faz saltar todos os dias da cama e gostar todos os dias de gestão cultural e de conhecimento.
“Quando me perguntam o que faço e preciso de explicar, digo: ‘Estás a ver um(a) bibliotecário(a)? Olha para mim como se fosse o(a) bibliotecário(a) sexy!’ Gosto de fazer o que todos (erradamente) acham menos excitante. Ajudo a montar o esquema de conhecimento mais adequado à paisagem que tenho na frente: paisagem de pessoas, sistemas, modelo de negócio, organização, produto, todo o ecossistema, rede e cadeia.”
Uma apaixonada por linguagens, seja de que tipo for: idiomas, sonora, gestual, cultural, corporal. “Alimentam a minha empatia, já de si gorda! : ))”
O seu emprego de sonho: Director of Happiness. Enquanto não o consegue, procura concretizá-lo através da gestão de conhecimento. Acredita que “happy employees = happy customers = happy employers retaining both!”
Pergunta de um profissional de GC
Neste episódio, a Rute também responde a uma pergunta do Alvaro Gregorio, Head de Inovação do Metrô de São Paulo:
Qual foi o teu primeiro momento, em que você duvidou de gestão de conhecimento, aquele momento em que você quis desistir e falou assim: ‘isto aqui não vale nada’?”
O que associa à Gestão do Conhecimento

Dinossauro
Ouça a entrevista para perceber o porquê.
Trechos da entrevista
“É como a felicidade, a felicidade é uma coisa que se cultiva, vive-se todos os dias ou então deixa-se morrer. A cultura é a mesma coisa e esta cultura do conhecimento passa por aí”
“Auditar é rever, é analisar, é perceber onde é que nós não estamos a fazer bem para fazer melhor, é perceber onde é que nós estamos a fazer bem para poder replicar noutras equipas na empresa.
Uma coisa muito importante que agora também é assim uma moda, a questão dos silos, eu sou muito apologista já de há muito tempo, que não deve haver esses silos, eu acho que é muito triste quando nas empresas as pessoas não têm noção daquilo que outros colegas fazem. Eu não preciso que toda a gente saiba fazer tudo, mas cheguei à conclusão que os empregados mais motivados, os trabalhadores mais comprometidos e felizes, são justamente aqueles que entendem que são um elo importante, na cadeia de valor, na cadeia do trabalho e isso só se consegue porque tu sabes o que é que está por trás de ti, o que é que vem à frente de ti.
Nessa altura tu consegues, inclusivamente, ajudar os teus colegas a fazer melhor.”
“As pessoas acham que o storage de informação, não se paga porque está na Cloud. É mentira, era importante as pessoas perceberem que reduzir o que é o lixo… Eu muitas vezes brinco ‘atenção pessoal, isto é um Sharepoint, não é um trashpoint ok?‘. Portanto, as pessoas não veem que reduzir esse lixo eletrónico, reduz a pegada ecológica”
“As organizações devem trabalhar essa gestão de conhecimento desde o hire até ao retire, portanto desde o momento em que contratam um colaborador até ao momento em que esse colaborador vai. Esse ‘ir‘ pode ser dentro da própria empresa, fabuloso porque estás a trabalhar para ti próprio; pode ser fora da organização, mas sem descurar a possibilidade dessa pessoa regressar. Porque isso seria fantástico, apesar de as pessoas dizerem: nunca voltes aonde já foste feliz.
E porquê isto? Porque quando uma pessoa entra para uma organização, quando é hired, ela está a ser contratada, eu vou contratá-la já para uma determinada função, um determinado departamento. E aí, se eu já tiver esta noção de cultura de conhecimento e vou ter necessariamente uma persona criada.
Eu estou-te a falar daquilo que é o paradigma muito mais utilizado para o estudo do cliente final, mas se eu tenho aqui uma persona, eu sei que essa persona vai ter de ter acesso a esta função, um número de sistemas com um determinado número de capacidades dentro desse sistema, para salvaguardar a questão de segregação de funções e todo um conjunto de salvaguarda de informação dentro da própria empresa e dos outros colaboradores.
E depois esse próprio sistema, que não deixa de ser o dos Recursos Humanos onde é criada esta persona que está associada aos sistemas, essa informação vai dar origem a um currículo que vai sendo construído. Já temos algumas plataformas no mercado que disponibilizam isso, do ponto de vista da gestão do empregado, a formação que ele faz, todas essas coisas e portanto, esta gestão de conhecimento também pode passar por aí.
Quando eu a nível funcional, aquela pessoa chega, eu tenho uma biblioteca, um repositório de processos e procedimentos bem montada, ela chega e eu digo assim: ‘olha o teu trabalho aqui é este e esta é a tua literatura, desta função’.”
“A gestão de conhecimento é sobretudo para os colaboradores; para valorizar o que nós temos de melhor, que são as pessoas. E essas pessoas só vão conseguir dar o seu melhor se se sentirem no seu melhor”
“é também dar as ferramentas para as pessoas aprenderem, a discernir o que é que é importante e não é, enquanto conhecimento”