Neste quarto episódio estivemos à conversa com Victor Alves, Principal Consultant de Learning & Development na Equinor e Professor nas pós-graduações do CRIE/UFRJ.
Nesta entrevista enriquecedora, explorámos a relação entre a gestão de conhecimento e a tomada de decisão, e o conceito de gestão de conhecimento pessoal. O Victor deixou-nos imensas referências e dicas concretas para podermos alavancar a nossa própria gestão de conhecimento pessoal e começar a transmitir aos mais novos os princípios subjacentes a esta habilidade.
Entrevista gravada dia 14 abril 2023.
Sobre o Victor

Um engenheiro apaixonado por aprendizagem e gestão do conhecimento, marido da Karine e pai do Gustavo e Benício, cristão praticante e botafoguense.
Mestrando em Administração pelo PPGAd/UFF, membro do grupo de pesquisa “PSC – Práticas, Saberes e Condutas”, com pesquisas relacionadas à temas como Gestão do Conhecimento Pessoal; aplicação do conceito de phronesis à Gestão. É graduado em Engenharia de Produção e Tecnologia em Petróleo e Gás, com especialização em Gestão do Conhecimento pela Coppe/UFRJ e Gestão Estratégica de Pessoas pela HSM University.
Conta aproximadamente 15 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais no setor de petróleo e gás, tanto operacional quanto na coordenação de operações e contratos, gestão do conhecimento e mais recentemente na coordenação de Treinamento na TechnipFMC.
Atualmente é Principal Consultant L&D na Equinor e Professor Convidado do CRIE/UFRJ. Também atua como Community Leader pela Wakelet, autor, palestrante e facilitador de workshops sobre Aprendizagem e Gestão do Conhecimento. Fora das plataformas e dos escritórios, desde 2012 tem sido atuante no desenvolvimento da indústria de óleo e gás, onde foi Coordenador do Comitê Jovem do IBP de 2013 à 2016 e Diretor da SPE Seção Brasil, de 2016 à 2020.
Pergunta de um profissional de GC
Neste episódio, o Victor também responde a uma pergunta da Sara Sá Leão, Lead Knowledge Manager na Dynatrace:
Como é que na organização em que estás monitorizas o conhecimento e demonstras o valor da gestão de conhecimento ao top management?
Recursos Adicionais
Podcast sobre Personal Knowledge Management (PKM): Bate-papo SBGC: Gestão do Conhecimento Pessoal
A sua monografia, um artigo no jornal e um artigo estruturante que resultaram neste trabalho em PKM: Desenvolvendo Habilidades de Gestão do Conhecimento Pessoal: A origem
Developing Personal Knowledge Management Skills at TechnipFMC
KM Conversations: Engaging Employees in Virtual Collaboration – TechnipFMC
O que associa à Gestão do Conhecimento

Livro:
- Personal Knowledge Management, de David Pauleen e G.E. Gorman – o óbvio!
- Knowing Knowledge, de George Siemens – inspirador; abriu a mente sobre como pensar o conhecimento e a aprendizagem.
Música:
Tocando em Frente de Almir Sater – remete ao nosso caminho e jornada que é feito de aprendizados, momentos alegres e difíceis, que não pode ser apressado. Este caminho deve ser fluido como o conhecimento e sua gestão devem ser.

Animal:
Peixe – analogia da pescaria do modelo seek sense share do Harold Jarche.
Instrumento:
Bússola – ajuda a nos dar a direção para onde precisamos ir.

Filme:
Carpe Diem – filme inspirador que remete ao pensamento crítico e à busca pela excelência no que se faz, tão importante e relacionado à PKM.
Objeto:
Mochila – senso de priorização pra ajudar a entender o que é importante, suficiente ou o que você precisa colocar na mochila para te ajudar na sua caminhada (conhecimento, relacionamentos, ferramentas). Analogia do Personal Knowledge Mountain do James Dellow.

Série:
Dark – (integralidade através da mente corpo alma / presente passado futuro) relacionados ao conhecimento pessoal, sabedoria e espiritualidade.
Trechos da entrevista
“A gestão do conhecimento é mais do que uma área, ela é uma habilidade. É uma habilidade que toda a pessoa, mais do que profissional, acho que toda a pessoa precisa de desenvolver.
Porque é a capacidade de você buscar, organizar, dar sentido e compartilhar e apresentar o conhecimento que você tem. Nas organizações o foco, é o registro do conhecimento, é essa formalização do conhecimento que está nas pessoas para as organizações, para que a organização não perca esse conhecimento quando as pessoas saem, mudam, etc.
A nível pessoal eu acho que, o principal foco da gestão de conhecimento é o auto-desenvolvimento, buscar o seu conhecimento, buscar a informação que você precisa para adquirir e para aplicar no que você precisa”
“A gestão do conhecimento é essa ciência que dá essa estrutura e organização do conhecimento organizacional”
“Por ser algo às vezes intangível e difícil de comunicar e às vezes abrangente demais em muitos casos, fica difícil essa comunicação. Mas a importância todo o mundo vê. O valor todo o mundo vê. Mas às vezes a melhor forma é de fazer ou dar esse nome, você perde esse benefício porque você não ’tá fazendo e gerenciando com as ferramentas adequadas”
“Uma técnica assim muito simples e fácil que eu acho que qualquer pessoa pode conseguir ter, é por exemplo do seek, é você ter um agregador de conteúdo.
Em vez de você ter diversas fontes de informação, de notícia chegando até você, você concentra todas elas ou as principais que você precisa saber, precisa focar, num agregador de conteúdo. Eu, por exemplo, gosto de usar o Readwise, há pessoas que usam o Feedly, tem outras que usam o Instapaper, Pocket… Então, tem alguns que você vai colocando ali como se fosse read-later apps. Então as informações chegam por ali, então ali é como se fosse a sua inbox de leitura, de busca, ali do conhecimento
A partir dali, ali vão vir coisas dos mais diversos chapéus e papéis que você tem na sua vida, podem vir coisas relacionadas, no meu caso: o meu mestrado; podem ser relacionadas à minha profissão; pode ser relacionado até mesmo ao meu papel de pai, paternidade, eu preciso saber o que é que é – como cuidar melhor dos meus filhos, da minha esposa, da minha família, então vão haver ali assuntos dos mais diversos papéis. E aí o que é que eu tenho de fazer a partir dali? Eu tenho que dar sentido para essa informação. E como é que eu dou o sentido para essa informação, que seria o sense do modelo do Harold Jarche? É você pegar essa informação e de alguma forma trabalhar ela ou organizar essa informação. Por exemplo, vi uma informação de como ajudar na educação financeira do filho, por exemplo. Quando chegar no momento de eu fazer isso, eu vou lá e vou ler essa informação. Eu salvo isso num caderno virtual, por exemplo, e aí no momento em que eu preciso fazer, eu leio aquilo para preparar algum tipo de trabalho com ele, alguma coisa do tipo.
No caso do mestrado, por exemplo, eu posso pegar um artigo que eu marquei para ler e ler esse artigo e marcar, fazer marcações, destacar coisas importantes. E a partir desse artigo, dessa leitura, eu fazer algum tipo de resumo e salvar em alguma pasta das minhas anotações do mestrado. Ou eu posso pegar isso e escrever um artigo, escrever um artigo estruturante ou um artigo num blog, por exemplo, num Medium, que é uma plataforma de publicação bem interessante, eu posso fazer isso e transformar. Ou eu posso simplesmente, por exemplo, se for uma receita de bolo que eu goste de cozinhar, não é o meu caso, mas digamos uma pessoa que goste de cozinhar, eu peguei uma receita de bolo, uma receita de bolo interessante, no momento oportuno eu vou pegar nessa receita e testar essa receita, eu vou fazer essa receita, eu vou ver, vou praticar esse assunto.
Então o sense é uma forma de você colocar em prática aquilo que você está consumindo, você não fica só na teoria, você ’tá sempre colocando, organizando, dando um sentido àquela informação. E aí depois eu compartilho isso, o share que é você chamar as pessoas, convidar as pessoas. O Harold Jarche tem uma analogia que ele compartilha, que ele viu no workshop dele, que é o da pescaria: a pessoa pesca o peixe, depois ela cozinha o peixe, depois ela chama as pessoas para jantar. Então o compartilhar é esse chamar as pessoas para jantar, é você mostrar para as pessoas o que você está fazendo. E isso pode ser algo muito elaborado ou às vezes uma coisa não muito elaborada. Pode ser uma coisa para você testar mesmo. ‘O que é que vocês acham deste texto que eu escrevi? O que vocês acham desta receita que eu fiz, está boa não tá?’ Assim você pega feedback, você melhora a sua prática, a sua prática profissional ou a sua prática pessoal, o seu caráter, enfim, uma série de outras implicações.
Mas é isso, com isso você conclui esse ciclo, que ele chama de ciclo, que é um ciclo, você faz o seek sense share mas você não termina no share, continua fazendo o seek, continua fazendo o sense e o share e isso é constante e com isso você se torna o que ele chama de catalizador do conhecimento, knowledge catalist.
Em última instância todos profissionais, eles têm de ser knowledge catalist na área dele, na área que ele se propõe a estudar, se propõe a trabalhar, que é ser esse profissional referência que agrega valor à rede dele”
“A gente precisa de estar atento ao que a gente não sabe, aberto ao não saber e não se sentir desconfortável com isso”
“Se as tecnologias, elas já estão suprindo esse problema da organização do conhecimento, o que é que cabe a nós, seres humanos, fazer? É como é que eu dou sentido para essa informação, correto?
Então, como eu dou sentido para essa informação e como eu tomo melhores decisões, aí é uma questão. E aí essa questão, o ChatGPT não vai conseguir fazer por mim.”
“Por mais que a gestão do conhecimento pessoal seja pessoal, ela é sempre coletiva. A gente até costuma dizer que são duas abordagens: a gestão do conhecimento pessoal é uma abordagem bottom-up, que vem ali da base dos indivíduos para as lideranças e sobe; e a gestão do conhecimento organizacional é mais top-down, tem a liderança, tem a governança que desce para os colaboradores.
Então essa junção das coisas ela existe, ela precisa existir. Não tem como. A gestão do conhecimento organizacional sozinha ela não dá conta das particularidades do indivíduo. Então precisa estimular ferramentas e processos e práticas de gestão do conhecimento pessoal, nos indivíduos, nos colaboradores das organizações, para que isso se conecte e consiga, de alguma forma, gerar o valor necessário”
“Todo o mundo deveria seguir mais ou menos essa receita que eu mencionei do Seek-Sense-Share. Então tenha isso em mente: como é que eu busco o meu conhecimento, como é que eu capturo a informação que eu preciso para fazer o que preciso fazer.
E para isso é importante você ter um foco, um propósito, porque você fazer isso para tudo você não vai conseguir capturar tudo de todos os lugares. Então pensa numa área que para você é muito importante desenvolver – ou uma área ou um projeto. Você está num mestrado então eu preciso capturar as coisas relacionadas ao meu mestrado. Então tenta definir isso, ter uma ferramenta para isso, que ajuda muito as ferramentas.
Depois procura criar uma rotina para você colocar em prática ou revisar isso que você está capturando. Então uma vez por semana, uma vez por quinzena… E crie uma conta num blog e comece a escrever sobre isso. Ou faz um vídeo sobre o que você tá aprendendo, sobre o que você tá desenvolvendo, ou bote em prática de uma outra forma se essa sua atividade ou o que você quer é uma coisa muito mais prática do que escrever.
Então a gestão do conhecimento pessoal ela é muito tangível e eu vejo isso muito claro para quem trabalha com informação ou conhecimento na produção do conteúdo, para outras pessoas depende. Um jogador de futebol, como é que se faz a sua gestão do conhecimento? É pondo em prática, indo para o campo, treinando e lendo sobre isso de alguma forma, mas sobretudo praticando.
Então esse tipo de coisa é seguir o Seek, Sense, Share, eu acho que uma outra coisa também que eu acho que é fundamenta, é se conectar com as sociedades de prática da sua área.
Eu recomendo conectar em duas comunidades, uma comunidade de prática da sua profissão, da sua área, seja você um enfermeiro, um médico, ou um jogador de futebol ou um professor. Se conecta com essa sua comunidade, troca informação, conversa com eles, troca figurinha, compartilhe o que você sabe com essa comunidade.
Mas também se conecte com uma comunidade de gestão do conhecimento pessoal: de pessoas que querem desenvolver a sua própria gestão pessoal. O Harold Jarche tem uma comunidade dele, o Tiago Forte tem uma comunidade dele, outras pessoas no Twitter têm a comunidade delas também, a Bianca Pereira, alguns outros também, estrangeiros inclusive também falam sobre isso, a própria Ana Neves tem ali o seu trabalho, também já entrevistou o Harold também.
Então tem muita gente falando um pouco sobre esse desenvolvimento da sua própria gestão do conhecimento.
Se conecte com essas pessoas porque de alguma forma você vai tar desenvolvendo sua prática profissional mas também a sua própria gestão do conhecimento para fazer a sua prática profissional”