O último episódio do podcast KMOL é com a Adriana Jacinto, Coordenadora da Equipa de Gestão de Conhecimento e Biblioteca no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Nesta conversa, a Adriana descreveu os passos que está a dar para a avaliação dos últimos 4 anos do programa de gestão de conhecimento e para a definição da estratégia para o quadriénio que se segue.
Falou-nos, por exemplo, do reaproveitamento do conhecimento, da utilização das lições aprendidas para alimentar o ciclo produtivo da organização, e de como recorrem ao storytelling para a partilha de experiências com uma elevada carga emotiva e grandemente dependentes do contexto em que foram vivenciadas.
Entrevista gravada dia 14 junho 2023.
“Toda a gente precisa de gestão de conhecimento; não são só as pessoas que trabalham nas áreas substantivas do nosso trabalho.”
Adriana Jacinto
Sobre a Adriana

Lidera a implementação do Plano de Ação para a Eficácia Organizacional sobre Conhecimento Dinâmico, como membro da Secção de Metodologia, Educação e Formação do Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights (OHCHR).
A Adriana começou a trabalhar com a ONU em 2000. Trabalhou vários anos em missões de manutenção de paz (Timor-Leste e Kosovo) em questões relacionadas com os direitos humanos (eleições; direitos das minorias; regresso de deslocados e refugiados).
Trabalhou no serviço diplomático português em Viena, Áustria, durante a Presidência Portuguesa da Organization for Security and Co-operation in Europe (OSCE), como desk-officer para o Sudeste da Europa, e na UNESCO em Moçambique, na área dos Assuntos Sociais e Humanos. Foi coordenadora de programas do Centro Universitário de Cooperação Internacional da Universidade de Parma, Itália.
A Adriana trabalhou no Serviço de Formação Integrada do Departamento de Operações de Paz na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, onde passou três anos a trabalhar em programas de formação para o pessoal civil de manutenção de paz.
Em meados de 2010, ingressou no Colégio de Pessoal do Sistema das Nações Unidas, onde foi Especialista em Aprendizagem sobre a Abordagem Baseada nos Direitos Humanos (HRBA) para o Desenvolvimento e Coordenadora de Cursos sobre Desenvolvimento Sustentável, Género e Direitos Humanos. Nessa função, em 2012, co-fundou a Academia de Verão das Nações Unidas com Patrick van Weerelt, Director do Centro de Conhecimento para o Desenvolvimento Sustentável do UNSSC. Durante os seus 5 anos no Colégio, Adriana trabalhou com as equipas nacionais da ONU em todo o mundo para apoiar os seus processos de análise, planeamento estratégico e programação.
Posteriormente, entre 2015 e 2018, com base em Jerusalém, Adriana continuou este trabalho de consultoria com as equipas nacionais das Nações Unidas, desenvolvendo capacidades para a integração da HRBA nos processos de análise, facilitando retiros de planeamento estratégico, apoiando quadros e processos de monitorização e avaliação, esforços de formação de equipas, entre outros.
Adriana licenciou-se em Relações Internacionais em 1997, em Lisboa, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, e concluiu o Mestrado Europeu em Direitos Humanos e Democratização em 1999, em Veneza, no Centro Inter-Universitário Europeu para os Direitos Humanos e a Democratização (EIUC).
Pergunta de um profissional de GC
Neste episódio, a Adriana também responde a uma pergunta da Viviana Garcia, Digital Workplace Coordinator na UEFA:
Como é que te certificas que as pessoas sabem sempre onde encontrar a informação de que precisam?
Recursos complementares
Aplicações referidas durante a entrevista:
- Microsoft Teams: chamadas; colaboração de documentos; repositório; organizar grupos de trabalho
- Yammer: criação de intranet, possibilita o acesso a outras plataformas
- Sharepoint Online: plataforma em que estão a construir a nova intranet e plataforma de gestão de conhecimento
- Visme.co : aplicação de visualizações, infográficos
- Genially: ferramenta para fazer coisas interativas, fácil de utilizar
- Vyond: ferramenta que possibilita fazer cartoons, imagens de animação
- Camtasia: ferramenta para gravações de tutoriais no ecrã
O que associa à Gestão de Conhecimento

A sua cadela Tracy.
Para a Tracy todas as manhãs é um começar de novo.
A Adriana acredita que na gestão de conhecimento temos de ser assim, ter vontade e energia todos os dias, de fazer mais e melhor, renovar, criar, recomeçar, visitar, continuar a explorar com dinamismo e nunca esquecer de mostrar aos outros o quanto apreciamos o seu empenho nesta tarefa conjunta.
A Adriana diz que na gestão de conhecimento todos precisamos de todos.
Trechos da entrevista
“Gerir esse conhecimento é o quê? É tentar fazer, estabelecer ligações entre esses vários conhecimentos dos que estão a aplicar metodologias e políticas e guidelines no terreno (…) Fazer a ligação entre essas várias fontes de conhecimento pessoas e assets e documentos, livros, estudos, relatórios, etc; organizá-los; pô-los à disposição de todos, dos que mais precisam desse conhecimento; e também documentar lições, aprender lições, aplicá-las, transferi-las de modo a que elas possam ser reinseridas, digamos assim, no ciclo produtivo, ou seja, no ciclo de utilização.
Portanto, a gestão de conhecimento é isto: é este ciclo em que se tira, se documenta e se cataloga, se põe à disposição o conhecimento. Para mim é isto, em que não começamos do zero mas sim pomos as experiências e os conhecimentos uns dos outros à disposição de quem os precisa, para enriquecer aquilo que está a ser produzido em termos de conhecimento, aprendendo lições e inserindo essas lições para poder aplicá-las, para poder devolver novas metodologias ou ajustar as metodologias que já desenvolvemos e que adaptámos, e que adotámos, bem como os standards que utilizamos para o nosso trabalho.”
“Pouco tempo antes de eu ter começado as minhas funções tinha sido definido, de facto, um plano estratégico na área da gestão de conhecimento aqui no OHCHR, e na altura, a nossa equipa de liderança considerou que seria mais representativo daquilo que queríamos alcançar, que chamássemos conhecimento dinâmico em vez de gestão de conhecimento, ou seja, dynamic knowledge em vez de knowledge management. E foi assim que ficou, digamos, documentado no nosso plano estratégico a gestão de conhecimento.
Portanto nós trabalhamos em gestão de conhecimento, obviamente, mas temos este imprint de estarmos a procurar este dinamismo, ou seja, aquele ciclo que eu falei há poucos minutos atrás em que temos esta nutrição do conhecimento constantemente a acontecer entre pessoas, entre estudiosos, entre pessoas que estão lá a clicar os conhecimentos, os practitioners e a manter essa roda em funcionamento de modo a que aquilo que nós estamos a documentar, aquilo que estamos a estudar, aquilo que estamos a aprender com a nossa prática, na prática da nossa profissão, dos direitos humanos possa reentrar no nosso circuito para beneficiar o impacto. No fundo aquilo que nós queremos é que o nosso trabalho tenha o impacto mais positivo possível na vida dos outros, na implementação dos Direitos Humanos.”
“Nós integramo-nos numa secção, que é a secção de metodologia, educação e formação no OHCHR, que em vários âmbitos diferentes. Por exemplo monitoragem e investigação de violação de Direitos Humanos: temos uma equipa dedicada a essa temática que é obviamente uma das tarefas mais importantes do nosso mandato como organização. Os colegas dessa equipa também trabalham em gestão de conhecimento, produzem glossários, conduzem after action reviews, conduzem formação, preparam case studies para essas formações para dar alguns exemplos.
De modo que temos outras áreas nesta secção que se ocupam exatamente de desenvolver metodologias em áreas diferentes do nosso trabalho que depois guiam o trabalho que nós fazemos em várias localidades do mundo.
Temos colegas que trabalham na formação, colegas que trabalham na área da educação para os Direitos Humanos, de maneira que, temos várias facetas dentro desta secção que são obviamente ligadas à área de gestão do conhecimento da organização”.
“O facto de termos formalizado a gestão de conhecimento como uma destas áreas, ajudou. Foi muito importante. De modo que, eu acho que essa é uma lição importante que a organização tirou.
Até esse momento não havia recursos dedicados, por exemplo, à gestão de conhecimento não havia a atenção dedicada, não fazia parte, por exemplo, do planeamento das entidades da organização, quando eu digo entidades são as várias secções e presenças no terreno. Todos têm que planificar e incluir nos seus relatórios elementos relacionados com gestão de conhecimentos. De modo que tudo isso foram pontos de força que inserir a gestão de conhecimento como um pilar, digamos assim, de eficácia organizacional trouxe.”
“Muitas vezes um dos obstáculos é precisamente arranjar tempo, digamos assim. Mas o arranjar tempo é relativo porque a gestão de conhecimento pode trazer um benefício que compensa o investimento.
A questão é dar esse passo. Muitas vezes, é ultrapassar essa barreira de ver que o investimento em gestão de conhecimento, vê-lo como uma tarefa adicional em vez de vê-lo como um benefício e aí não é evidente nem imediato.
De maneira que fazemos bastante trabalho nesse sentido, contamos com aquilo que eu chamo os pioneiros, digamos assim, que vão à frente e que vão mostrando o caminho. E esses fazem toda a diferença, ou seja, em projetos que nós temos colegas que veem todo o beneficio do investimento em gestão de conhecimento – seja em gerir uma comunidade de práticas, por exemplo; em que estimulam a distribuição de conhecimentos; estimulam o colocar de perguntas e de respostas; estimulam chamar pessoas para essas conversas; organizam diálogos, webinars para discussões sobre os temas de que se ocupam – esses mostram o valor adicional e inspiram outras equipas, outras áreas de trabalho, a fazerem a mesma coisa”.
“Nós tentamos estimular entrevistas, ocasiões em que os colegas conversem uns com os outros, em que haja a parte mais oral dessa transmissão de conhecimentos e documentar histórias. A técnica de storytelling é muito útil nesta matéria.”